(publicado na edição de 28/02/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
O ano de 2011 teve como um de seus acontecimentos
políticos mais marcantes a criação do Partido Social Democrático, capitaneada
pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. A crítica foi praticamente unânime,
externada por meio de incontáveis artigos e análises motivados pelo fato de que
Kassab assumidamente abandonou o mais emblemático partido de oposição ao
Governo Federal, para fundar uma agremiação que já nasceu aliada a esse.
Seguiu-se acalorada discussão sobre as possíveis
falhas estruturais do sistema partidário brasileiro, principalmente sua
inconsistência em matéria ideológica. Todo esse questionamento, entretanto,
cessou repentinamente: o novo partido obteve sucesso não só no intrincado
processo legal necessário para seu registro, como também ganhou adesões de peso
em todo o país. Rapidamente, o PSD passou da condição de “símbolo de todos os
males da política brasileira”, para o status de potência média do contexto
partidário nacional. Enfim, virou um fato mais do que consumado.
Entretanto, apesar de ter conquistado espaço
inegável no Parlamento e em governos por todo o país, a curta história do PSD
ainda não pode ser considerada como um sucesso. A diversidade de elementos que
ele atraiu para si em seu processo de formação pode gerar uma dificuldade
grande para a coordenação interna, principalmente para a tomada de decisões em
escala mais ampla, como as estaduais e a federal. Quem se arriscar a
estabelecer a comparação com o PMDB, deve lembrar que esse partido tem uma base
histórica considerável, que remete ao antigo MDB, e a seu corajoso,
transparente e frontal combate feito contra o regime ditatorial. Esse legado,
mesmo distante, é sempre lembrado e exaltado pelos peemedebistas, o que garante
ao partido um certo potencial de união. Esse tipo de componente é totalmente
ausente da genética do PSD, tendo sido essa falta de “elementos ideológicos”,
inclusive, anunciada com uma ponta de orgulho por Kassab quando do lançamento
nacional do partido, em abril de 2011.
A necessidade de coordenação interna geralmente não
surge com destaque nas eleições locais, mas sim nas estaduais e nacionais, que
virão em 2014. É fato que o pleito do presente ano já representa um grande
desafio ao PSD, pois ganhar força e capilaridade em todo o país são
indispensáveis para uma legenda com grandes planos, mas nem todo o sucesso
nessa tarefa pode preparar o PSD para o desafio de 2014. Esse pedirá
coordenação, coerência, uma hierarquia interna clara, enfim, todos elementos
não mencionados ainda por Kassab, que até agora se preocupa principalmente em
deixar à vontade os novos companheiros de agremiação. Em poucas palavras, como
formar e unir um time coeso e focado, se a proposta partidária, desde o
princípio, é a da liberdade quase total? Pela frente, o PSD tem ainda um grande
desafio, que deve ser equacionado na esfera institucional; o sucesso das urnas
de outubro, se vier, pode apenas cristalizar graves defeitos de origem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário