terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A gestão pede estabilidade política

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/02/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

A recente renúncia do Ministro das Cidades, Mário Negromonte, deixou parte da crítica política nacional em dúvida se trata-se de mais um caso de afastamento por suspeita de corrupção, ou se o que ocorreu já foi o primeiro sinal da reforma de governo prometida pela presidente Dilma Rousseff para o início de 2012. A esse questionamento, é útil agregar o fato de que a própria montagem da equipe de governo se arrastou por todo o ano de 2011, com disputas por cargos de segundo e terceiro escalão ganhando repercussão inédita em nossa história recente. A confusão aparente entre a montagem da equipe de governo, a suposta crise desse e a realização de sua primeira reforma coloca em destaque a pergunta: o que está acontecendo com o Governo Federal?
Inicialmente, podemos distinguir claramente que a esfera técnica da administração federal não parece ter sido atingida por tal crise: a gestão econômica permanece sob controle, o combate à corrupção tem se intensificado e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mantém seu ritmo. A turbulência vem mesmo é da sustentação política do governo.
É fato notório que Dilma Rousseff dedica atenção especial – quase carinho – à gestão do Estado em seus aspectos mais administrativos. A política ocupa posição secundária em suas prioridades – algo que a presidente não se preocupa em esconder –, e isso a diferencia radicalmente de seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva. Não são incomuns as análises que qualificam Dilma como uma “política apolítica”, que assim como o governador mineiro Antônio Anastasia e o prefeito belo-horizontino Márcio Lacerda, marcariam uma nova geração da política nacional: sucedendo a líderes de grande popularidade e apoiados por amplas bases partidárias, delegam a articulação de suas bases de sustentação política a outras lideranças, já mais afeitas a essa lida. A importância dada a grandes “projetos especiais” também é marca típica dessa nova safra de governantes, que apostam muito nos resultados de suas ações prioritárias.
Tal estilo de gestão política pode se tratar de uma opção pessoal, talvez mesmo voltada para a preservação da imagem do governante. Porém, os resultados – sobretudo no Governo Federal – não têm sido satisfatórios, e devem afetar o funcionamento da própria administração, dentro de um certo tempo. Afinal, não há como manter indefinidamente uma administração em funcionamento apenas através de projetos especiais – como o próprio PAC – ou de pequenos núcleos de excelência – como com a área econômica do governo. É preciso estabilidade e continuidade no funcionamento dos ministérios formais e tradicionais, assim como a racionalização da grande quantidade existente desses, que hoje são quase 40. A escolha dos ministros é um ato político, mas também administrativo: se Dilma e seus partidos de apoio não negociarem e se entenderem de forma direta e definitiva, os resultados do governo acabarão por serem afetados, e não bastará transferir a culpa genericamente à classe dos políticos.

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