(publicado na edição de 26/07/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
participação de Dilma Rousseff na reunião do grupo de países tidos como potências
emergentes chamou a atenção para a atuação da Rússia no mundo de hoje.
Envolvida em uma guerra não-assumida com a Ucrânia, país do qual já havia
anexado parte do território no ano passado, a Rússia tem adotado retórica
hostil em relação aos EUA à União Europeia. Devido a esse quadro, muitos têm
imaginado a volta da Guerra Fria.
A
Rússia continua a ser uma potência militar formidável, única capaz de fazer
frente à máquina de guerra norte-americana. Não por acaso, o general Joseph
Dunford, ao ser sabatinado recentemente pelo Senado dos EUA no processo de
admissão ao comando das forças armadas, apontou a Rússia como uma ameaça
existencial aos Estados Unidos. Antes da ação militar, entretanto, há o cálculo
político, que frequentemente inclui o interesse econômico; é sob essa lógica
que a Rússia deixa de parecer tão ameaçadora. Como parte do sistema econômico
capitalista, a Rússia está integrada de forma definitiva ao resto do mundo.
Entre
1947 e 1989, período de tensão entre EUA e União Soviética batizado como Guerra
Fria, havia uma diferença estrutural em relação ao momento atual: a adoção do
socialismo real pelos soviéticos. Além da diferença entre regimes políticos, a economia
era determinante: a existência de um conjunto de países que organizava suas
economias a partir do socialismo dividia o mundo em duas metades, com pouca relação
entre si. Não havendo propriedade privada dos meios de produção, o Estado ocupava
o lugar do empresário, agindo como gerente onipresente preocupado em organizar
cada engrenagem do sistema produtivo. A economia socialista, portanto, seguia
suas próprias regras, englobando dezenas de países em um sistema de comércio
independente da outra metade do planeta. Nesse sentido, o esfacelamento da
União Soviética significou a falência do modo socialista de organizar a
produção: esse sistema não pôde igualar o dinamismo e a capacidade sempre
crescente do capitalismo para gerar riqueza.
Ao
adotar o capitalismo, em 1991, a Rússia se encontrava falida em todos os
sentidos, passando por uma traumática década de crise e adaptação ao novo
sistema. A ascensão ao poder de Vladimir Putin, enérgico e centralizador como
vários outros na história russa, assim como a alta nos preços do petróleo que o
país passou a explorar, deram início a uma época de prosperidade. Portanto, o
ressurgimento da Rússia como potência mundial depende da manutenção de
resultados positivos em sua economia, que ultimamente vem sofrendo sanções por
parte dos EUA e da União Europeia devido à intervenção russa na Ucrânia. Mais
do que isso, a queda recente nos preços internacionais do petróleo também tem
causado efeitos negativos na economia russa, algo que causa desconfiança nos mercados
financeiros mundiais. Assim, se não conseguir reverter sua retórica militarista
em resultados econômicos positivos em breve, Putin provavelmente deve
devolvê-la à prateleira de relíquias da era soviética.
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