por Paulo Diniz
(publicado na edição de 23/08/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
manifestações realizadas em 16 de agosto foram cheias de significado para as
diversas correntes políticas atuais. Para a classe média, que pela terceira vez
deixou as panelas para ir às ruas, está ficando claro que não basta expressar
sua indignação aos quatro ventos: para concretizar a mudança que desejam, é
preciso uma tática concreta, assim como atores do sistema político dispostos a
assumir tal empreitada. Por isso, foi possível perceber a predominância dos
pedidos de impeachment de Dilma Rousseff, assim como uma aproximação discreta
em relação a lideranças do PSDB.
A queda no
número de manifestantes também é significativa: mostra a percepção de que a
simples presença nas ruas, mesmo que reúna milhões, não é capaz de alterar os
rumos do governo, ou mesmo de suscitar a autocrítica nas cúpulas palacianas. O governo
se acostumou a conviver com altos índices de rejeição popular, fazendo uso de
um raciocínio que combina recortes pontuais da realidade com altas proporções
de uma fantasia persecutória que vitimiza o PT; um enredo que curiosamente
coloca como fraco o partido que exerce o poder há mais de uma década,
controlando os bilhões do orçamento da União com singular desenvoltura. No
mesmo sentido, reputar o descontentamento popular unicamente à crise econômica
significa simplificar de forma conveniente o contexto político: afinal,
protestos contra o governo vêm ocorrendo desde 2013, e mesmo nas eleições de
2014, as urnas mostraram o país claramente dividido. O desgaste petista vem se
acumulando ao longo dos anos, e a negação desse fato não torna o partido mais
apto a superar tais desafios.
Derrotado no
campo da popularidade, o governo também enfrenta dificuldades no âmbito
jurídico: a operação Lava Jato produz suas primeiras condenações, enquanto investigadores
continuam encontrando novas ramificações na teia de agentes governistas que
desviam recursos de contratos públicos. O cerco ao governo também se aperta
devido ao julgamento das contas federais de 2014, algo que envolve diretamente
Dilma Rousseff, sobretudo por seu conhecido zelo pela questão orçamentária.
Acumulam-se, assim, ameaças reais em mais um flanco do governo.
No campo da
política, foi rompido o isolamento quase total que afligia a Dilma Rousseff:
uma trégua foi feita com o presidente do Senado, Renan Calheiros, o que dividiu
temporariamente as forças do PMDB e enfraqueceu o movimento pró-impeachment que
se alastrava pelo Legislativo. Essa ponte construída entre governo e PMDB é
indispensável para que Dilma se sustente no poder, pois é capaz de evitar que a
queda de sua popularidade, por si só, dê origem a um processo de impeachment.
A
concomitância permanente entre as crises de popularidade, jurídica e de
sustentação política do governo, que até se configurou por breves momentos no
mês de agosto corrente, significaria um cenário fatal para o mandato de Dilma. É
graças a um fragilíssimo equilíbrio, portanto, que foi adiada a formação da
tempestade completa nos céus sobre Brasília.
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