(publicado na edição de 16/08/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A divulgação de pesquisa
de popularidade do Governo Federal, feita pelo mesmo instituto que primeiro
previu a vitória de Dilma Rousseff em 2014, deu contornos matemáticos a uma
realidade que quase todos percebem: o isolamento da presidente. Os números
estabelecem novos recordes, superando os piores momentos de José Sarney e
Fernando Collor, nos anos 80 e 90. Não por acaso, em ambas situações o Brasil
vivenciava descontrole na economia, com taxas inflacionárias altas e muita
incerteza da população sobre o futuro. Collor, sem apoio legislativo e
envolvido em escândalo de corrupção, teve seu mandato abreviado por pressões
populares e políticas. Já o habilidoso Sarney soube manter sua coalizão
parlamentar unida, sustentando seu governo até o último dia, apesar do enorme
desgaste político que o acompanha até hoje.
Essa simples comparação
deveria servir como orientação para o comando do atual governo; afinal,
trata-se das únicas referências existentes, na democracia vigente, de gestões
que atingiram graus de rejeição popular que beiravam a unanimidade. Porém, o
conjunto das atitudes da cúpula do governo Dilma não indica que lições desse
tipo foram aprendidas. O ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante, parece
integrar o time de petistas que se conscientizaram a respeito da situação atual
do governo e, também, em relação à forma como funciona a política no Brasil.
Recentemente, o ministro elogiou a forma “elegante” como o PSDB vinha fazendo
oposição nos últimos 12 anos, aproveitando a ocasião para reconhecer o enorme
ganho social representado pela estabilização da economia brasileira, fruto de
governos tucanos. Contradizendo toda a propaganda petista das últimas décadas,
Mercadante se reconcilia com a razão: PT e PSDB podem ser adversários, mas
nunca antagonistas, uma vez que, cada um a seu modo, ambos partidos levaram a
cabo projetos de sucesso para o avanço do Brasil.
O ex-presidente Lula,
apesar de ter agido às escondidas, também seguiu o raciocínio de Mercadante:
lançou sinais de que gostaria de se reunir com Fernando Henrique Cardoso, para
conversar sobre a estabilidade do país. Escaldado após ser atacado por décadas,
FHC recusou a proposta petista; ficou claro que foram queimadas algumas pontes
ao longo da trajetória de Lula, o que dificulta recuperar relações que, no
passado, haviam sido amistosas.
Contrastando com essas
duas sinalizações de aproximação em relação aos tucanos, a recente propaganda
partidária do PT insistiu na estratégia do isolamento, chegando a mostrar
imagens de líderes do PSDB e imputar-lhes desejos golpistas. Contradizendo a
maioria dos analistas econômicos, o programa petista também afirmou que a atual
crise econômica será rápida, o que só serve para granjear ainda mais antipatia
junto à população dentro do médio prazo.
Somando-se tais fatos
soltos, não é possível obter nada concreto: percebe-se a ausência de uma
estratégia geral consistente no PT para recuperar o governo Dilma, que segue a
correnteza da política de forma inerte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário