por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/08/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Os dois atentados contra
turistas na Tunísia, que esse ano totalizaram 59 vítimas fatais, chamam a
atenção da imprensa mundial não apenas por seu custo humano, mas pelo histórico
recente desse país norte-africano. O primeiro ato da “Primavera Árabe” surgiu
na Tunísia, em dezembro de 2010, como movimento popular e secular contrário às
péssimas condições de vida enfrentadas pela população; passados quatro anos e
profundas reformas políticas, agora é o radicalismo religioso que colhe adeptos
em larga escala no país, já que a pobreza e a insatisfação ainda predominam. A
relação entre pobreza e política, entretanto, pode ser vista a partir de uma
perspectiva mais ampla.
Em 1958, o presidente
brasileiro Juscelino Kubitschek apresentou aos demais governantes do continente
uma proposta batizada “Operação Pan-americana”, consistindo basicamente em um
grande projeto de cooperação regional que esperava financiamento dos Estados
Unidos. O objetivo era, diretamente, reduzir os alarmantes níveis de pobreza e
desigualdade encontrados na região e, como conseqüência, deixar as populações
carentes das Américas menos suscetíveis ao apelo de movimentos políticos de
esquerda radical. Afinal, vivia-se o auge da Guerra Fria. Recebida pelos
ianques com desconfiança, a OPA progrediu pouco, mas serviu de inspiração para
um programa semelhante, lançado pelos EUA em 1961.
A abordagem
proposta por Kubitschek em 1958 permanece válida no mundo de hoje, tendo mudado
apenas o tipo de radicalismo político para o qual se voltam as populações mais
carentes. Se no passado a atração era pelo extremismo de orientação marxista,
hoje é o radicalismo muçulmano que serve de saída aos milhões de atingidos pela
pobreza crônica, gerando ameaças à segurança das principais potências
ocidentais. Diferente da década de 1960, entretanto, atualmente não é possível
identificar nenhum movimento de escala multinacional voltado para o combate à
pobreza, apenas iniciativas de cunho militar para conter as suas conseqüências
políticas.
Além do
Oriente Médio, em evidência pela guerra na Síria, também o continente africano,
o centro e o sudeste da Ásia se encontram afetados por rebeliões de aspecto
religioso. Invariavelmente, são as regiões mais carentes que registram quadros
de radicalização religiosa e, ato contínuo, canalização dessa para a política:
desde o árido Afeganistão, até a estagnada Faixa de Gaza, além da Somália, país
mais pobre do mundo onde até o Estado deixou de existir em 1991.
Simples que
pareça o problema, não há iniciativas de porte para soluciona-lo. Com esforço
próprio, o Brasil superou a extrema pobreza ao longo das duas últimas décadas,
porém aumentou o nível de desigualdade social: talvez por isso, a insatisfação
social por aqui ainda se expresse por meio de fenômenos de menor intensidade,
como o crime organizado. Casos de pobreza estrutural, entretanto, dependem de
esforço de âmbito mundial para serem equacionados: um assunto que não consta
das agendas das nações mais ricas do mundo.
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