por Paulo Diniz
(publicado na edição de hoje de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Nos
últimos dias, lideranças do Governo Federal, da oposição e do PMDB têm trocado
acusações em relação aos protestos realizados durante o recente pronunciamento
de Dilma Rousseff. Enquanto alguns testam formas de ganhar popularidade com a
onda de insatisfação, os petistas preferem desqualificar de várias formas os
revoltados de domingo à noite. À parte da retórica partidária, o fato é que a
classe média dá mostras de que está se envolvendo cada vez mais no jogo da
política, o que representa uma novidade no cenário recente.
Difícil
precisar, nesse contexto, o raciocínio das principais figuras do governo
petista: reputam as manifestações como articuladas e remuneradas por partidos
da oposição, restringindo-as depois a pequenos grupos sociais, historicamente
privilegiados e agora incomodados com as políticas de promoção social adotadas
pelas gestões do PT. Trata-se de um argumento distante da realidade, já que o desgaste
da presidente Dilma vinha atingindo níveis altos já antes do atual agravamento
do escândalo da Petrobrás e da crise econômica: no início de fevereiro, apenas
23% da população aprovava a atual gestão, de acordo com levantamento nacional.
Se levado em conta o empate técnico apurado nas urnas em outubro, fica fácil
perceber que o atual governo se iniciou já contando com baixos índices de
aprovação popular.
A
questão passa a ser se as lideranças petistas realmente acreditam na explicação
que divulgam sobre o denominado panelaço: se for esse o caso, há risco político
no ar, pois a condução política de um governo depende da forma como esse
compreende a realidade ao seu redor; longe do mundo real, a cúpula petista
arrisca reagir de forma atabalhoada, gerando mais desgaste para si e
instabilidade para o país. Por outro lado, se o que dizem faz parte de uma
estratégia política elaborada, podemos interpretar que o governo Dilma busca
recuperar o apoio de seus eleitores de 2014, baseando-se em um discurso de
antagonismo entre classes sociais que, apesar de também não gerar estabilidade,
ao menos indica que os articuladores do governo sabem o que estão fazendo.
De
toda forma, persiste em curso o enfrentamento do PT com seu maior rival na
atualidade, o PMDB: na ausência de gestos petistas em direção a uma
reconciliação, é provável que a ameaça de impeachment da presidente Dilma permaneça
viva nos planos do único partido capaz de concretizar tal empreitada no país, o
próprio PMDB. Uma vez que Dilma foi preservada das investigações que se iniciam
sobre o escândalo da Petrobras, é notória a necessidade de que a cúpula do PMDB
não receba sozinha a culpa por esse escândalo, o que fornece forte motivação
política para que esse partido busque atingir a atual presidente.
Tendo
em mãos os meios institucionais e as motivações políticas, falta apenas o apoio
popular para que o PMDB se sinta confortável o suficiente para patrocinar a
causa do impedimento de Dilma. Nesse ponto, a entrada da classe média na
refrega política pode fornecer a gota d’água que faltava.
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