domingo, 15 de março de 2015

Panelaço bate à porta: a classe média na política

por Paulo Diniz
(publicado na edição de hoje de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Nos últimos dias, lideranças do Governo Federal, da oposição e do PMDB têm trocado acusações em relação aos protestos realizados durante o recente pronunciamento de Dilma Rousseff. Enquanto alguns testam formas de ganhar popularidade com a onda de insatisfação, os petistas preferem desqualificar de várias formas os revoltados de domingo à noite. À parte da retórica partidária, o fato é que a classe média dá mostras de que está se envolvendo cada vez mais no jogo da política, o que representa uma novidade no cenário recente.
Difícil precisar, nesse contexto, o raciocínio das principais figuras do governo petista: reputam as manifestações como articuladas e remuneradas por partidos da oposição, restringindo-as depois a pequenos grupos sociais, historicamente privilegiados e agora incomodados com as políticas de promoção social adotadas pelas gestões do PT. Trata-se de um argumento distante da realidade, já que o desgaste da presidente Dilma vinha atingindo níveis altos já antes do atual agravamento do escândalo da Petrobrás e da crise econômica: no início de fevereiro, apenas 23% da população aprovava a atual gestão, de acordo com levantamento nacional. Se levado em conta o empate técnico apurado nas urnas em outubro, fica fácil perceber que o atual governo se iniciou já contando com baixos índices de aprovação popular.
A questão passa a ser se as lideranças petistas realmente acreditam na explicação que divulgam sobre o denominado panelaço: se for esse o caso, há risco político no ar, pois a condução política de um governo depende da forma como esse compreende a realidade ao seu redor; longe do mundo real, a cúpula petista arrisca reagir de forma atabalhoada, gerando mais desgaste para si e instabilidade para o país. Por outro lado, se o que dizem faz parte de uma estratégia política elaborada, podemos interpretar que o governo Dilma busca recuperar o apoio de seus eleitores de 2014, baseando-se em um discurso de antagonismo entre classes sociais que, apesar de também não gerar estabilidade, ao menos indica que os articuladores do governo sabem o que estão fazendo.
De toda forma, persiste em curso o enfrentamento do PT com seu maior rival na atualidade, o PMDB: na ausência de gestos petistas em direção a uma reconciliação, é provável que a ameaça de impeachment da presidente Dilma permaneça viva nos planos do único partido capaz de concretizar tal empreitada no país, o próprio PMDB. Uma vez que Dilma foi preservada das investigações que se iniciam sobre o escândalo da Petrobras, é notória a necessidade de que a cúpula do PMDB não receba sozinha a culpa por esse escândalo, o que fornece forte motivação política para que esse partido busque atingir a atual presidente.
Tendo em mãos os meios institucionais e as motivações políticas, falta apenas o apoio popular para que o PMDB se sinta confortável o suficiente para patrocinar a causa do impedimento de Dilma. Nesse ponto, a entrada da classe média na refrega política pode fornecer a gota d’água que faltava.

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