por Paulo Diniz
(publicado na edição de 07/12/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
cotidiano da política brasileira, quando acompanhado de perto, altera a forma
como percebemos o tempo: fatos recentes ganham dimensões catastróficas,
enquanto acontecimentos mais distantes no tempo tendem a ser desprezados. Essa
dinâmica, mais aguda em ano eleitoral, levou poucos analistas a perceberem a revolução
modernizante que marcou o Brasil das duas últimas décadas: um ciclo virtuoso de
estabilidade econômica, amadurecimento das instituições públicas e sociedade
civil. As ocorrências de corrupção descobertas na Petrobras, mesmo sendo
exemplo da degenerescência da política brasileira, também podem ser vistas como
sinal de que a modernização do país começa a alcançar os desvãos mais escuros do
Estado, pois têm levado às carceragens figuras tradicionais da corrupção
nacional: os grandes empreiteiros.
A
estabilidade econômica produzida pelo Plano Real, assim como a profunda e pouco
divulgada reforma da máquina pública realizada na gestão de Fernando Henrique
Cardoso, criaram as bases indispensáveis ao processo de modernização. A
administração de Lula, por sua vez, distribuiu renda e fomentou o mercado
consumidor interno, inserindo milhões de famílias brasileiras no cotidiano
globalizado da internet e dos padrões mundiais de gosto e estética. O Brasil rompeu,
definitivamente, o isolamento internacional que era parte central do modelo de
desenvolvimento econômico adotado a partir da década de 1930.
Consequentemente,
além de instituições como a Polícia Federal, outros atores desempenharam papel
crucial para o desfecho do escândalo de corrupção na maior estatal brasileira:
investidores internacionais e órgãos de controle do mercado financeiro
norte-americano. O fato da Petrobras ter parte de suas ações negociada na Bolsa
de Valores de Nova York torna a empresa vinculada não só à legislação
financeira e anti-corrupção dos Estados Unidos, como também faz com que a
opinião pública desse país passe a acompanhar detidamente os passos da direção
da estatal. O comportamento corporativo da maior empresa do Brasil, assim, está
sendo avaliado pelos critérios dos investidores mais exigentes do mundo, sob
pena de perder acesso ao grande volume de recursos que o principal centro do
capitalismo mundial é capaz de prover. Não é por outro motivo, portanto, que a
estatal brasileira rapidamente adotou uma postura colaborativa em relação às
investigações, assim como anunciou mudanças importantes em sua estrutura de
controle interna.
Trata-se
de um choque frontal entre o Brasil arcaico e o moderno. De um lado, a
corrupção alimentada pelos partidos que ocupam o poder, interpretando o Estado
como um recurso privado a seu dispor; do outro lado, o Brasil moderno surgido
de nossa integração com os padrões típicos das economias mais avançadas do
planeta. No centro da tormenta, a Petrobras deve escolher a qual desses mundos
prefere pertencer: ao que indicam os noticiários, o caminho a ser trilhado pela
empresa, como indicativo para o futuro do Brasil, é seguir se modernizando.
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