por Paulo Diniz
(publicado na edição de 21/12/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Desde
seu surgimento como nação, o Brasil enfrenta uma questão crucial, para a qual ainda
não encontrou solução: definir seu posicionamento no mundo. Trata-se,
basicamente, da escolha da prioridade maior da política externa, o que não só
determina os esforços políticos a serem feitos em relação ao mundo, como também
o que se pretende receber em retorno. A opção por uma prioridade na política
externa não implica desconsiderar outras linhas de ação, porém é essencial
investir mais em relações com maior potencial: baseadas em fatores estruturais
de identificação entre as partes.
Independente
como a única Monarquia das Américas e gozando de estabilidade política por
quase todo o século XIX, o Brasil representou por muito tempo o oposto em
relação à sua vizinhança continental: as repúblicas hispano-americanas,
envolvidas em constantes disputas de poder. O isolamento brasileiro foi uma
constante que apenas começou a ser superada na década de 1990: primeiro pela
euforia do Mercosul e, recentemente, pelo alinhamento ideológico entre os
governos de esquerda da região e as administrações petistas do Brasil. Decantada
que seja essa nova relação, o Brasil não deixou de ser visto com desconfiança
por seus vizinhos, sendo ainda acusado de potência imperialista: priorizar o
continente, assim, é opção com poucas perspectivas de sucesso.
Por
outro lado, o pleito por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da
ONU, obsessão nacional na última década, fez parte do projeto de elevação do Brasil
à condição de protagonista mundial. Se o tamanho da economia nacional permite
que se busque horizontes tão ambiciosos, a preferência atual pelo alinhamento a
regimes autoritários colocou sob suspeita a estreia recente do Brasil como
articulador em cenários conturbados, como o Oriente Médio. Mais do que
voluntarismo, esse caminho demanda coerência política.
Em
oposição a esses cenários, uma simples característica define o lugar brasileiro
no mundo: nossa condição como país de língua portuguesa, que nos torna parte de
um conjunto de nove países cujas identidades nacionais concentram-se fortemente
no idioma. Falar nativamente o português é algo que suplanta questões étnicas,
religiosas e históricas, unindo povos distintos pela forma comum de expressão. Trata-se
não apenas de fenômeno sociológico especial e pouco explicado, como também fator
estratégico favorável ao Brasil, país mais destacado entre os de expressão
portuguesa: tem diante de si o posto de líder natural de uma comunidade de cerca
de 290 milhões de pessoas, distribuídas por quatro continentes.
Tendo
o universo lusófono como foco preferencial da política externa brasileira, não
apenas são resgatados os laços mais profundos que nos ligam às nossas matrizes
europeia e africana, como também podem ser moldadas relações econômicas
privilegiadas com esses dois importantes continentes. Cultura, política e
economia se unem em torno do fator que mais marca nosso jeito de ser: o apego à
forma como nos expressamos para o mundo.
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