por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/12/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
últimas semanas têm sido marcadas pela atuação do senador Aécio Neves como
líder da oposição a Dilma Rousseff: comandou uma árdua batalha legislativa, que
atrasou em uma semana a aprovação do projeto de lei de redução da meta de
superávit fiscal, além de divulgar vídeos nas redes sociais convocando
manifestações de rua contra a corrupção. Esse agitado final de ano se soma às
especulações pós-eleitorais, fomentando dúvidas sobre o panorama da disputa
nacional de 2018. Entretanto, mais realista do que traçar cenários para futuro
tão distante, é elencar os principais desafios para que Aécio volte a pleitear
a Presidência em condições favoráveis.
A
votação expressiva obtida por Aécio Neves, virtualmente um empate com a
candidata vitoriosa, constitui um enorme capital político; porém, devido à
forma distante como o brasileiro médio se relaciona com a política quando não
há eleições, o mais provável é que a maioria de seus 51 milhões de eleitores se
distancie do ex-governador mineiro. Para impedir esse quadro, Aécio deve
empregar todos os esforços para se manter em evidência, não só na tribuna do
Senado, mas principalmente no imaginário popular. Agindo assim, Aécio e o PSDB
partem para construir um grande acerto, que vai muito além do que apenas captar
a insatisfação popular com a gestão petista, principal estratégia do partido
desde que se tornou oposição. Nesse sentido, o apelo direto à população
convocando protestos é um começo promissor, mas deve inovar depressa para
manter o interesse do eleitorado.
Outro
desafio crucial se relaciona com a reforma da estrutura interna do PSDB,
sobretudo o processo de escolha de candidatos: restrito ao envolvimento das
altas lideranças, esse tradicional modelo produz sempre arestas internas, e assim,
suspeitas constantes de que nem todos no partido se engajam na campanha
nacional tucana. Mesmo correndo o risco de ser preterido em 2018 diante de
outro postulante, sobretudo paulista, convém a Aécio investir na renovação
partidária, pois essa não apenas fortalece a capacidade de ação do PSDB, como
também pode expandir a presença nacional do partido, hoje muito concentrado em
São Paulo.
Por
fim, o desafio mais emblemático diante de Aécio Neves consiste na reconstrução
de sua base política em Minas Gerais. O apoio da cúpula do PSDB a Aécio em 2018
deve estar vinculado, certamente, à demonstração de que a derrota de 2014 não se
repetirá, e que o senador mineiro será capaz de atrair o voto da maioria de
seus conterrâneos; algo que, efetivamente, só poderá ser comprovado após as
eleições municipais de 2016. Portanto, Aécio depende não só de uma fenomenal
vitória tucana nas eleições municipais de 2016 em Minas, mas principalmente que
essa possa ser diretamente vinculada à sua liderança pessoal. Assim sendo, vale
para Aécio a lição da qual Juscelino Kubitschek nunca se afastou: o caminho
para o poder passa inevitavelmente pelas pequenas cidades do interior mineiro,
onde se cultiva a astúcia política desde antes da Inconfidência.
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