por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
campanha eleitoral de 2014 representou, durante seu desenvolvimento, um duro
teste para as instituições da jovem democracia brasileira. Quando se observa um
passado tão recente, a tendência usual é a de considerar, como faz a maioria
dos analistas políticos brasileiros, o alto grau de fracionamento do cenário
político, assim como as dificuldades para a construção do novo governo. Porém,
um dos fatos que mais se destacam é o de que a democracia se fez prevalecer.
Foi superado, assim, um dos maiores testes do sistema político brasileiro desde
a conturbada disputa de 1989.
O
maior desafio coube à Justiça Eleitoral, órgão encarregado da estabilidade e
lisura do pleito: foram inúmeras as peças de campanha, sobretudo no segundo
turno, retiradas de circulação por terem sido dedicadas a agredir o candidato adversário.
Essa atuação dissipou as várias desconfianças que pairavam sobre o
comportamento do Tribunal Superior Eleitoral, presidido que é pelo ministro
Dias Toffoli, o ex-advogado do PT cuja nomeação pelo ex-presidente Lula figura
como uma das maiores polêmicas do meio jurídico brasileiro.
No
mesmo sentido, a sociedade civil brasileira demonstrou maturidade democrática
considerável ao longo da campanha: segundo levantamento de opinião realizado na
semana anterior ao pleito, 71% do eleitorado brasileiro condenava o uso de
propagandas eleitorais de cunho ofensivo por parte dos candidatos. Momentos
marcantes da democracia brasileira, como a derrota de Fernando Henrique Cardoso
em 1985 sob acusação de ateísmo, ou a de Lula em 1989, pela revelação de que
havia recomendado aborto a uma ex-namorada, não encontram mais eco junto ao
conjunto de valores do eleitor brasileiro. Assim, diminuiu o grau de
personalismo na disputa presidencial nacional, tornando a eleição um pouco mais
orientada pela comparação entre plataformas políticas, e menos por uma
encenação voltada para cativar o eleitor. Por detrás de toda poeira levantada
pelas campanhas de Aécio e Dilma, houve um certo amadurecimento do eleitor.
Mesmo
os mercados financeiros, que em outras eleições passaram por ondas de pânico
diante dos movimentos da política brasileira, em 2014 se mostraram seletivos em
seus temores. Excluindo a desvalorização das ações de empresas como a Petrobras
e o Banco do Brasil, diretamente envolvidas em escândalos de corrupção, não
houve variações de mercado que não fossem ancoradas em argumentos já apontados
por analistas há anos. Por exemplo, o perfil elevado de gastos públicos, somado
às imprevisíveis intervenções pessoais de Dilma na gestão econômica, são
fatores de risco apontados por agências internacionais ao longo de quase todo o
atual mandato. Vemos, assim, que as oscilações do mercado antes e após a
votação não decorreram de qualquer tipo de histeria coletiva.
Para
o futuro, podemos esperar que a euforia eleitoral contraste, ainda mais do que
em 2014, com o funcionamento eficiente e estável das instituições democráticas:
uma conquista da sociedade brasileira como um todo.
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