terça-feira, 11 de novembro de 2014

Vitória da estabilidade

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A campanha eleitoral de 2014 representou, durante seu desenvolvimento, um duro teste para as instituições da jovem democracia brasileira. Quando se observa um passado tão recente, a tendência usual é a de considerar, como faz a maioria dos analistas políticos brasileiros, o alto grau de fracionamento do cenário político, assim como as dificuldades para a construção do novo governo. Porém, um dos fatos que mais se destacam é o de que a democracia se fez prevalecer. Foi superado, assim, um dos maiores testes do sistema político brasileiro desde a conturbada disputa de 1989.
O maior desafio coube à Justiça Eleitoral, órgão encarregado da estabilidade e lisura do pleito: foram inúmeras as peças de campanha, sobretudo no segundo turno, retiradas de circulação por terem sido dedicadas a agredir o candidato adversário. Essa atuação dissipou as várias desconfianças que pairavam sobre o comportamento do Tribunal Superior Eleitoral, presidido que é pelo ministro Dias Toffoli, o ex-advogado do PT cuja nomeação pelo ex-presidente Lula figura como uma das maiores polêmicas do meio jurídico brasileiro.
No mesmo sentido, a sociedade civil brasileira demonstrou maturidade democrática considerável ao longo da campanha: segundo levantamento de opinião realizado na semana anterior ao pleito, 71% do eleitorado brasileiro condenava o uso de propagandas eleitorais de cunho ofensivo por parte dos candidatos. Momentos marcantes da democracia brasileira, como a derrota de Fernando Henrique Cardoso em 1985 sob acusação de ateísmo, ou a de Lula em 1989, pela revelação de que havia recomendado aborto a uma ex-namorada, não encontram mais eco junto ao conjunto de valores do eleitor brasileiro. Assim, diminuiu o grau de personalismo na disputa presidencial nacional, tornando a eleição um pouco mais orientada pela comparação entre plataformas políticas, e menos por uma encenação voltada para cativar o eleitor. Por detrás de toda poeira levantada pelas campanhas de Aécio e Dilma, houve um certo amadurecimento do eleitor.
Mesmo os mercados financeiros, que em outras eleições passaram por ondas de pânico diante dos movimentos da política brasileira, em 2014 se mostraram seletivos em seus temores. Excluindo a desvalorização das ações de empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil, diretamente envolvidas em escândalos de corrupção, não houve variações de mercado que não fossem ancoradas em argumentos já apontados por analistas há anos. Por exemplo, o perfil elevado de gastos públicos, somado às imprevisíveis intervenções pessoais de Dilma na gestão econômica, são fatores de risco apontados por agências internacionais ao longo de quase todo o atual mandato. Vemos, assim, que as oscilações do mercado antes e após a votação não decorreram de qualquer tipo de histeria coletiva.
Para o futuro, podemos esperar que a euforia eleitoral contraste, ainda mais do que em 2014, com o funcionamento eficiente e estável das instituições democráticas: uma conquista da sociedade brasileira como um todo.

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