por Paulo Diniz
(publicado na edição de 16/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
imersão da população na política pode ter se firmado como um legado positivo das
eleições de 2014. Entretanto, uma outra reminiscência não tão benéfica seria a
consolidação da polarização entre PT e PSDB. A abertura de uma terceira frente
no cenário político não obteve apoio do eleitorado a ponto de constituir uma
disputa de segundo turno, de maneira que a oposição entre favoráveis e
contrários ao atual governo prevaleceu.
O
principal problema da polarização política não decorre, em si, da pequena
oferta de opções partidárias viáveis ao eleitor: democracias consolidadas, como
a britânica e a norte-americana, funcionam há séculos em torno de dois grandes
partidos. No caso brasileiro, uma das principais derivações da polarização
política é o empobrecimento do debate público: as campanhas dos principais
candidatos à Presidência giraram em torno de poucos tópicos, em relação aos
quais cada um pedia a aprovação ou rejeição popular.
Um
ícone dessa dinâmica foi o papel central desempenhado por Cuba na campanha de
2014, algo somente possível devido à forma superficial como decorre o debate no
cenário polarizado da política brasileira. O principal programa de saúde da
gestão de Dilma Rousseff foi ponto de embate na campanha eleitoral: consiste da
importação de profissionais de saúde cubanos para atendimento em periferias
metropolitanas e zonas rurais isoladas. O modelo de saúde da ilha comunista,
tido como inovador no passado mas exaurido nos dias de hoje, passou a ser a
referência a partir da qual se discutiu, apoiando ou rejeitando, o futuro da
saúde no Brasil.
Cuba
também foi mencionada por receber, durante as gestões petistas, vultuosos
investimentos brasileiros na área de infraestrutura. O debate que se seguiu,
sobre a validade dos mecanismos de cooperação internacional praticados pelo
Brasil, foi dominado por considerações sobre detalhes do regime cubano, hoje a
ditadura mais longeva das Américas.
Com
uma agenda política tão engessada, a opinião pública brasileira perdeu a
habilidade de sonhar mais longe. Quando vem à tona a antiga paixão juvenil dos
dirigentes petistas pela simbologia que envolve a ilha dos irmãos Castro, só
resta aos tucanos buscar desconstruir o estilo cubano de governo e gestão: assim,
é com a medida da falida Cuba que se projeta o futuro do Brasil. Não houve
menção, por exemplo, ao modelo de sociedade adotado nos países nórdicos, que há
oito décadas distribuem riqueza entre as classes sociais de forma radical, viabilizando
o mais alto padrão de vida do planeta; ao mesmo tempo, se constituem como as
sociedades mais livres do mundo. Será impossível ao Brasil atingir esse patamar
enquanto Cuba continuar dominando corações e mentes dos brasileiros.
Considerar
Cuba como modelo implica aceitar um axioma surreal: o de que a liberdade do ser
humano pode ser trocada por um conjunto de políticas públicas que garanta um
padrão mínimo de vida. Essa lógica, afinal, só pode ser levada a sério por quem
planeja abrir mão apenas da liberdade alheia.
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