terça-feira, 25 de novembro de 2014

A nova cara da velha política

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 23/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Passadas as eleições presidenciais, a cena política brasileira vive um intenso e incomum momento de atividade, marcado por uma sucessão de fatos que dizem muito a respeito da correlação de forças que se configura para o período de 2015 a 2018. O primeiro ocorreu poucos minutos após a reeleição de Dilma Rousseff: em seu discurso de vitória, a presidente prometeu se empenhar na realização da reforma política, a ser feita através de plebiscitos populares. Isso levou sinais de alerta a soar por todo o país: após conquistar uma vitória dificílima, atravessando uma campanha que feriu gravemente a imagem do Partido dos Trabalhadores, a presidente reeleita teve sua atitude interpretada como sinal de que buscaria vingança pela provação que havia acabado de superar, elegendo como alvo não apenas o PSDB, mas todo o sistema político brasileiro. Se o momento da proposta representou uma escolha infeliz da petista, seu conteúdo foi ainda pior: o uso de plebiscitos para tomar decisões de conteúdo técnico complexo extrapola os limites da participação popular, resvalando nos procedimentos próprios de regimes populistas hispano-americanos.
Poucos poderiam esperar, entretanto, os acontecimentos que se seguiriam a esse rompante presidencial, nos quais o PMDB saltou ao primeiro plano da política brasileira. Consciente de que o apelo popular do PT se desgastou muito pelas atuais denúncias de corrupção, assim como pelo embate com o PSDB na campanha, o PMDB decidiu fazer valer sua força no Parlamento. Não apenas desautorizou o impulso bolivariano de Dilma através de declarações imediatas de suas principais lideranças, com destaque para o vice-presidente Michel Temer, como também articulou a derrubada do decreto presidencial que concedia mais poder aos conselhos populares de políticas públicas. Sem dar tempo para reação petista, o PMDB passou a articular a aprovação de projetos que desagradam a União: além de representarem aumentos nos gastos públicos, também concretizam desejos antigos de estados e municípios, como a repactuação de débitos desses com o Governo Federal. Para o início de 2015, mais nuvens de tempestade no horizonte petista: ganha força a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados, o mais destacado nome da ala oposicionista do PMDB.
O recado emitido pelo PMDB é tão claro quanto agressivo: no novo governo petista, o PMDB quer mais espaço institucional e mais poder. Ao chacoalhar as bases de sustentação de Dilma, criando empecilhos reais ao invés das usuais ameaças de retirada de apoio, o principal partido governista se coloca como o fiador maior da nova administração. A mensagem é clara: sem o apoio da bancada parlamentar do PMDB, a gestão de Dilma se torna inviável, como se vivesse o Brasil sob um legítimo regime parlamentarista. A julgar pela variedade e gravidade das denúncias de corrupção que se avolumam na Polícia Federal, pode-se entender que nunca antes em sua história, o PT esteve tão dependente de defensores no Congresso Nacional.

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