por Paulo Diniz
(publicado na edição de 23/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Passadas
as eleições presidenciais, a cena política brasileira vive um intenso e incomum
momento de atividade, marcado por uma sucessão de fatos que dizem muito a
respeito da correlação de forças que se configura para o período de 2015 a
2018. O primeiro ocorreu poucos minutos após a reeleição de Dilma Rousseff: em
seu discurso de vitória, a presidente prometeu se empenhar na realização da reforma
política, a ser feita através de plebiscitos populares. Isso levou sinais de
alerta a soar por todo o país: após conquistar uma vitória dificílima, atravessando
uma campanha que feriu gravemente a imagem do Partido dos Trabalhadores, a
presidente reeleita teve sua atitude interpretada como sinal de que buscaria
vingança pela provação que havia acabado de superar, elegendo como alvo não
apenas o PSDB, mas todo o sistema político brasileiro. Se o momento da proposta
representou uma escolha infeliz da petista, seu conteúdo foi ainda pior: o uso
de plebiscitos para tomar decisões de conteúdo técnico complexo extrapola os
limites da participação popular, resvalando nos procedimentos próprios de
regimes populistas hispano-americanos.
Poucos
poderiam esperar, entretanto, os acontecimentos que se seguiriam a esse
rompante presidencial, nos quais o PMDB saltou ao primeiro plano da política
brasileira. Consciente de que o apelo popular do PT se desgastou muito pelas
atuais denúncias de corrupção, assim como pelo embate com o PSDB na campanha, o
PMDB decidiu fazer valer sua força no Parlamento. Não apenas desautorizou o impulso
bolivariano de Dilma através de declarações imediatas de suas principais
lideranças, com destaque para o vice-presidente Michel Temer, como também
articulou a derrubada do decreto presidencial que concedia mais poder aos
conselhos populares de políticas públicas. Sem dar tempo para reação petista, o
PMDB passou a articular a aprovação de projetos que desagradam a União: além de
representarem aumentos nos gastos públicos, também concretizam desejos antigos
de estados e municípios, como a repactuação de débitos desses com o Governo
Federal. Para o início de 2015, mais nuvens de tempestade no horizonte petista:
ganha força a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos
Deputados, o mais destacado nome da ala oposicionista do PMDB.
O
recado emitido pelo PMDB é tão claro quanto agressivo: no novo governo petista,
o PMDB quer mais espaço institucional e mais poder. Ao chacoalhar as bases de
sustentação de Dilma, criando empecilhos reais ao invés das usuais ameaças de
retirada de apoio, o principal partido governista se coloca como o fiador maior
da nova administração. A mensagem é clara: sem o apoio da bancada parlamentar
do PMDB, a gestão de Dilma se torna inviável, como se vivesse o Brasil sob um
legítimo regime parlamentarista. A julgar pela variedade e gravidade das
denúncias de corrupção que se avolumam na Polícia Federal, pode-se entender que
nunca antes em sua história, o PT esteve tão dependente de defensores no
Congresso Nacional.
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