por Paulo Diniz
(publicado na edição de 02/11/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Assim
como o Brasil, o Uruguai passou por eleições nacionais no dia 26 de outubro,
vivendo um momento de intensa movimentação política: enquanto aqui concluímos o
processo eleitoral, no país vizinho foi realizado ainda o primeiro turno. Vários
pontos em comum com a situação brasileira chamam a atenção, o que demanda uma
análise cuidadosa do significado de tais coincidências políticas.
O
candidato que obteve a maior votação no Uruguai, como no Brasil, contava com o
apoio do governo: por ser vedada a reeleição, o líder governista é o ex-presidente
Tabaré Vázquez, antecessor do atual mandatário. Dessa forma, não surpreende
que, em ambos os países, um dos temas principais da campanha tenha sido o das
acusações de uso da máquina pública para fins eleitorais.
A
alternância de poder também foi assunto muito discutido na campanha uruguaia: a
exemplo do PT brasileiro, a Frente Ampla representa uma coalizão de partidos de
esquerda que comanda o Uruguai desde 2005, começando a ser questionada pelo
esgotamento de sua plataforma de gestão. Sendo assim, um argumento que
movimentou uruguaios e brasileiros foi a possibilidade de se imprimir um novo sentido
à administração do país.
O
desempenho econômico foi uma marca do debate eleitoral em ambos os países, que
mesmo passando por situações distintas, tiveram seus eleitores tomados pelo receio
de crise. Enquanto o Brasil enfrenta um quadro de recessão técnica em 2014, o
Uruguai aproveita uma maré positiva como há muito não se via, que é creditada
pela oposição unicamente ao bom momento do mercado mundial para os produtos do
país platino. Em caso de mudança de conjuntura econômica, temia-se que a
aliança esquerdista não conseguisse recuperar o crescimento, um argumento
também muito utilizado contra Dilma Rousseff diante das perspectivas de 2015.
Com
realização de segundo turno em 30 de novembro, as previsões eleitorais no
Uruguai apontam um cenário parelho entre o candidato governista e o opositor
Luis Lacalle Pou, que mesmo recebendo apoio do terceiro colocado, não supera o
percentual estimado para Vázquez. Situação semelhante à do Brasil após o pleito
de 5 de outubro, quando Marina Silva cerrou fileiras com Aécio Neves,
evidenciando que em ambos os países, o descontentamento com a plataforma
política vigente é considerável, envolvendo metade da população nacional.
As
pequenas margens de diferença entre governo e oposição, tanto no Brasil quanto
no Uruguai, podem ser interpretadas como desgaste da onda de governos
esquerdistas que tomou a América do Sul na década de 2000. Captando o desejo
por mudança, as oposições ganham espaço investindo sobre o envelhecimento da
pauta de propostas dos governos de esquerda: democracias estáveis, como a
brasileira e a uruguaia, têm se mostrado capazes de registrar a insatisfação
popular através de seus sistemas representativos. Os resultados eleitorais de
2014, no Brasil e no Uruguai, podem indicar o início de uma nova tendência
política para o continente, a se realizar em poucos anos.
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