por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/08/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
recente episódio opondo o banco Santander à Presidente Dilma Rousseff atraiu as
atenções do mercado financeiro, configurando situação que pode afetar o futuro
político dessa. O estopim da situação ocorreu quando os clientes especiais desse
banco receberam um informe relativo aos riscos que podem decorrer da
continuidade do governo petista em 2015. Por envolver bancos e grandes
investidores, o caso tocou um dos pontos mais sensíveis à esquerda nacional: a
rivalidade quase futebolística entre as classes sociais. Sendo assim, a reação
presidencial foi contundente, na forma de uma censura que foi percebida pelo
mercado como ameaça.
A
visão adotada pelo PT remonta a meados do século XIX, quando Karl Marx
publicava seus estudos sobre a expansão do capitalismo inglês. Desde então
muito mudou, a começar pela superação da ideia de que os atores da sociedade se
comportam de forma mecânica e unidirecional, determinada pela condição econômica
de cada um. Um século de pesquisa nas Ciências Sociais prova que não só a
variável econômica não é tão central, como também todos são capazes de mudar de
comportamento para atingir seus fins.
No
capitalismo, investidores buscam lucro e evitam risco, trabalhando para prever obstáculos
futuros. Por isso, o temor quanto ao governo de Lula, que sacudiu mercados
durante a campanha de 2002, estava fundado no discurso radical que o candidato proferia
ao longo dos anos. A promessa de respeito às regras acalmou os ânimos na
campanha, e durante os dois mandatos de Lula, o setor bancário brasileiro obteve
os maiores lucros de sua história, tornando o petista o governante mais querido
pelos banqueiros.
O
período de Dilma rompeu essa harmonia, porém os motivos passam longe do suposto
boicote dos agentes financeiros ao governo de esquerda. O que fragiliza Dilma é
o desempenho da economia: os indicadores de crescimento e inflação batem
recordes negativos, trazendo à tona comparações com a década de 1990. Gradualmente,
os agentes do mercado vêm adotando postura cautelosa em relação à gestão
econômica de Dilma: a diminuição em suas intenções de voto é acompanhada pelo
aumento do movimento na bolsa de valores; milhares de investidores coincidem na
avaliação de que a economia brasileira tem mais chances de crescer se não for gerenciada
pela petista. Os analistas do banco Santander apenas reproduziram um pensamento
que é corrente e fundamentado em dados.
A
agressiva resposta da presidente causa danos à própria imagem e à sua campanha.
Além de demonstrar agressividade em relação a uma instituição privada que tem o
compromisso de aconselhar seus clientes, Dilma também mostra descompasso em
relação ao que se passa no país: chama pessimistas àqueles que orientam suas
expectativas com base nas estatísticas oficiais de desempenho da economia. Há,
portanto, muitos fatores que justificam a atual antipatia dos mercados em relação
à candidata petista, porém o antagonismo ideológico entre mercados liberais e
um governo de esquerda não compõe esse contexto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário