quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pesadelo petista

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 21/08/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e na edição de 23/08/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A recente pesquisa eleitoral divulgada, primeira a registrar Marina Silva como candidata à Presidência da República, apresenta um inédito quadro no qual Dilma Rousseff não se reelege. Esse levantamento marca uma sequência de acontecimentos surpreendentes, que só encontra paralelo em um passado distante da história nacional. Em julho de 1930, o Brasil concluía um de seus mais conturbados processos eleitorais para a escolha do Presidente da República. A chapa oposicionista, derrotada nas urnas, alegou fraude e contestou os resultados durante meses; porém, já chegava o momento no qual as tensões se amainavam. O imponderável, então, agiu: candidato derrotado à vice-presidência, o governador paraibano João Pessoa foi assassinado em praça pública, em um crime sem motivação eleitoral. Mesmo assim, o fato foi suficiente para contaminar a esfera política, detonando a Revolução de 1930.
Hoje, como no passado, o acaso e a tragédia marcam presença: a perda abrupta de Eduardo Campos, também um ex-governador nordestino protagonista na política nacional, vai além da coincidência, pois em ambos os casos o cenário político brasileiro foi radicalmente alterado. Diferente de 1930, não se vive mais no Brasil um ambiente propício a golpes e revoluções, porém a ascensão de Marina Silva à condição de candidata à Presidência equivale a uma reviravolta tão espetacular quanto as rupturas políticas do passado. O choque causado pelo acidente que vitimou Campos teve consequências que só poderão ser compreendidas após a apuração dos resultados eleitorais. A comoção gerada por esse evento não só atraiu a atenção popular para a campanha presidencial, como também gerou enorme destaque para a sucessora de Campos, sua candidata a vice-presidente Marina Silva, que já havia obtido quase vinte milhões de votos em 2010.
A polêmica atuação do TSE em 2013, impedindo o registro do novo partido articulado por Marina, foi vista por muitos como uma vitória para a chapa de Dilma Rousseff. O temor governista de enfrentar Marina Silva tinha vários motivos: além de dividir com Dilma o trunfo de ser mulher, um fato que os petistas acreditam ser vantajoso à atual presidente na disputa com o PSDB, Marina Silva também traz em si as qualidades historicamente associadas ao PT, já que integrou esse partido por décadas. O que Marina não partilha com Dilma, contudo, é o desgaste acumulado pelos petistas, pois a ex-senadora acreana desvinculou-se do partido durante o escândalo do mensalão.
Quando Eduardo Campos, em outubro passado, anunciou a surpreendente filiação de Marina Silva ao PSB, o pernambucano não só deixou clara sua grande capacidade de articulação política, como também inquietou os principais dirigentes petistas. Não se podia avaliar, naquele momento, o peso que poderia ter Marina Silva na chapa liderada por Campos. Hoje, apontada como potencial vitoriosa em segundo turno, a candidata Marina representa a materialização do pior pesadelo que os estrategistas da campanha governista poderiam temer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário