segunda-feira, 5 de maio de 2014

O PP subiu no telhado

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 05/05/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Diz o ditado que a política é a arte do impossível. Nada mais correto, apesar de incompleto, pois o dito não menciona o esforço necessário para fazer com que essa arte vire realidade. É possível perceber, hoje, o quanto a política demanda esforço quando se observa o trabalho de montagem da principal chapa de oposição para as eleições de outubro, liderada por Aécio Neves.
Iniciando a trajetória com o apoio de apenas dois partidos, o PSDB perdeu a companhia do aguerrido PPS logo que Eduardo Campos surgiu como terceira via à disposição do eleitor. Restou o apoio do Democratas, partido que representa apenas uma sombra do poderoso PFL da década de 1990. Virtualmente sozinho, o PSDB terá muito trabalho para movimentar as engrenagens de uma campanha presidencial, pois só poderá contar com sua própria estrutura partidária para realizar eventos e pedir votos; em importantes estados, como o Rio de Janeiro, essa estrutura é inexpressiva. É urgente buscar parceria em âmbito nacional com partido de grande expressão eleitoral.
A configuração política nacional obriga que o acerto do PSDB ocorra a partir da deserção de um partido da base de apoio de Dilma Rousseff. Alguns fatos recentes indicam que o Partido Progressista é a agremiação governista mais assediada pelos tucanos e, considerando-se a conjuntura, teriam muito a ganhar com isso. Em Minas Gerais, base de Aécio, o PP tem uma relação profunda com o PSDB, a ponto de herdar desse o governo estadual a partir do início de abril. O apoio dos tucanos à reeleição do novo governador, Alberto Pinto Coelho, poderia representar uma excelente oferta para a cúpula nacional do PP: por sua centralidade na política nacional, assim como por ter o terceiro maior orçamento do Brasil, o Governo de Minas representaria uma autêntica “joia da coroa” para o PP. Há de se considerar, também, a posição de principal partido da base aliada, que caberia ao PP no caso de uma vitória de Aécio.
Mesmo negada, essa hipótese é significativa: em ano eleitoral, desmentir um assunto é uma forma de mantê-lo em evidência. A notória presença de Alberto Pinto Coelho em todas as regiões mineiras, fruto de sua trajetória como parlamentar, somada à visibilidade própria do comando do estado mineiro, torna o atual governador um postulante praticamente imbatível à reeleição. Outro indício da aproximação PSDB-PP é a especulação a respeito da senadora gaúcha Ana Amélia, tida como possível candidata à vice-presidência ao lado de Aécio. Se concretizada, essa proposta selaria o convite tucano a uma aliança extremamente favorável ao PP.
Considerando as possibilidades dessa projetada aliança, assim como a inexistência de perspectiva de crescimento do PP sob a sombra do PMDB no governo petista, é provável que tal acordo tenha suas negociações adiantadas. Já seu anúncio pode demorar ainda alguns meses, até o limite do prazo de realização das convenções partidárias, adiando o rompimento formal com o PT e prolongando a presença dos pepistas nos ministérios que ocupam.

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