domingo, 18 de maio de 2014

Aposta arriscada de Dilma

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/05/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - na edição de 28/05/2014 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 29/05/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

À medida que se aproxima a Copa do Mundo, vários setores profissionais e da sociedade civil têm saído às ruas para expor suas demandas. Não há dúvida que buscam o destaque propiciado pelo maior evento esportivo do planeta para forçar o atendimento de suas pautas. Entretanto, a característica setorial dos protestos das últimas semanas tem feito com que os grupos envolvidos sejam diminutos, normalmente contabilizados às centenas. Isso faz com que todos no Brasil, especialmente no mundo político, se perguntem se haverá nesse ano, tal como em 2013, um turbilhão de revolta popular contra a situação geral do país.
Sob a perspectiva eleitoral, é importante considerar que em 2013 houve uma forte rejeição à classe política como um todo, vista como incapaz de produzir respostas, ou mesmo de escutar às demandas da população. Assim, os três principais pré-candidatos à Presidência seriam hoje igualmente desgastados, podendo haver ganho de popularidade apenas para algum candidato de perfil contestatório e exótico a ponto de não ser identificado com a tradicional política brasileira. Em certa medida, a ex-senadora Marina Silva poderia ocupar esse papel, como já se pôde notar em 2010, porém a condição de postulante à vice-presidência na chapa do PSB parece ofuscar o brilho de renovação da ilustre acreana.
Tomando por base o padrão dos protestos do ano passado, não há como negar também que algumas figuras políticas eram mais diretamente cobradas pelas multidões: os ocupantes de cargos públicos, principalmente os responsáveis pelos gastos excessivos relacionados à Copa do Mundo. A presidente Dilma Rousseff foi, dessa forma, a principal penalizada pela fúria popular, porém alguns governadores e prefeitos também perderam popularidade. Caso se repita um fenômeno semelhante nas ruas brasileiras, será prejudicada a presidente Dilma Rousseff de forma aguda, já que não só é a única presidenciável que ocupa cargo no Executivo, como também pouco fez a partir das duras cobranças populares do ano passado: como novidade, só tem mesmo a apresentar o polêmico programa Mais Médicos. Eduardo Campos, que deixou o governo de Pernambuco em abril, pode também sofrer algum desgaste em escala regional, enquanto Aécio Neves se encontra na posição mais confortável, pois é senador desde 2011, e assim não pode ser diretamente responsabilizado pelas ações do governo de Minas nos últimos anos. Novamente, Marina Silva seria a personagem que mais poderia capitalizar apoio popular, pois não tem contra si o passivo de uma gestão no Poder Executivo, posto que nunca exerceu.
É impossível prever se as faíscas que temos hoje nas ruas serão capazes de inflamar um novo incêndio de insatisfação em junho. Única no comando da máquina administrativa, Dilma tem a vantagem de poder tomar medidas preventivas que atendam à população e reduzam a ira popular. Porém, até agora sua única mudança de rumo foi investir no aparato de segurança; uma aposta arriscada, caso o brasileiro não se renda ao fascínio pelo futebol.

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