segunda-feira, 12 de maio de 2014

Entendendo o "Volta, Lula"

por Paulo Diniz
(publicado nas edições de 11/05/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, de 16/05/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minhas Gerais - de 17/05/2014 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e de 18/05/2014 do Diário de Manhuaçu - Manhuaçu, Minas Gerais - e do Diário de Caratinga - Caratinga, Minas Gerais)

Recentemente o mundo político nacional susteve a respiração por quase uma semana, tenso pelos rumores de que o ex-presidente Lula poderia voltar a se candidatar ao cargo máximo da nação. Há de se perguntar por que o boato foi capaz de gerar tamanha comoção, sobretudo nas hostes petistas, uma vez que as previsões eleitorais ainda apresentam a presidente Dilma como favorita à reeleição.
Sob a ótica da estratégica eleitoral, é possível pensar o "Volta Lula" como uma surpresa no cenário eleitoral, capaz de gerar perturbação nas estratégias dos oponentes da chapa petista. Para a oposição, a importância de se ter um plano alternativo se fez evidente, e a elaboração desse demanda tempo e esforço. Ao permitir que cogitem seu nome, Lula certamente busca desgastar seus adversários; também consegue produzir um fato novo para os noticiários, que deixaram momentaneamente de destacar os escândalos da Petrobras.
Ao mesmo tempo, a opção pelo lançamento de Lula como candidato pode guardar a solução do principal problema da campanha petista: o desgaste da administração de Dilma Rousseff. A candidatura de Lula pode, assim, vincular todos os fatores negativos à gestão de Dilma, fomentando a ideia de que Lula poderia trazer de volta a bonança de seus anos de governo.
Além do panorama eleitoral, é preciso considerar fatores internos ao PT, na busca do significado do “Volta Lula”. Difícil distinguir o momento exato no qual o PT mudou sua orientação básica: de um partido de massas, para um grande partido. Essa mudança pouco tem a ver com o número de filiados ou com a conquista de postos na administração pública, mas sim com o núcleo da vida partidária. Por muito tempo, o PT foi notório por suas dissensões internas, assim como por seu conturbado processo decisório, o que indicava que a dinâmica do partido se encontrava em sua aguerrida militância. Hoje, o centro das atenções é o ex-presidente Lula, que tem cada uma de suas palavras interpretadas como um proclame de diretrizes partidárias. A dinâmica petista se tornou extremamente dependente dos humores de uma única liderança, atrelando conveniências eleitorais pessoais à decisão de rumos programática.
O fenômeno do "Volta Lula" indica, assim, não só o grau de centralização interna ao qual chegou o PT, mas principalmente o nível de dependência psicológica dos membros do partido em relação a seu membro mais famoso. Desprovido de figuras de referência nacional, especialmente no âmbito eleitoral, o PT só pode mesmo contar com Lula; porém, mais grave do que isso, é que o partido parece inerte quanto à possibilidade de ter de buscar outro caminho. O apoio ao "Volta Lula" por parte da militância petista representa o reconhecimento de que o partido, hoje, gira em torno de uma personalidade, seus desejos e conveniências; iguala-se, assim, ao PDT de Leonel Brizola. Triste destino para o partido que, com sua trajetória única na recente democracia brasileira, representou o sonho de muitos brasileiros pela mudança na política brasileira.

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