por Paulo Diniz
(publicado nas edições de 11/05/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, de 16/05/2014 do Correio do Sul - Varginha, Minhas Gerais - de 17/05/2014 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e de 18/05/2014 do Diário de Manhuaçu - Manhuaçu, Minas Gerais - e do Diário de Caratinga - Caratinga, Minas Gerais)
Recentemente o mundo político nacional susteve a respiração por
quase uma semana, tenso pelos rumores de que o ex-presidente Lula poderia
voltar a se candidatar ao cargo máximo da nação. Há de se perguntar por que o
boato foi capaz de gerar tamanha comoção, sobretudo nas hostes petistas, uma
vez que as previsões eleitorais ainda apresentam a presidente Dilma como
favorita à reeleição.
Sob a ótica da estratégica eleitoral, é possível pensar o "Volta
Lula" como uma surpresa no cenário eleitoral, capaz de gerar perturbação
nas estratégias dos oponentes da chapa petista. Para a oposição, a importância
de se ter um plano alternativo se fez evidente, e a elaboração desse demanda
tempo e esforço. Ao permitir que cogitem seu nome, Lula certamente busca
desgastar seus adversários; também consegue produzir um fato novo para os
noticiários, que deixaram momentaneamente de destacar os escândalos da
Petrobras.
Ao mesmo tempo, a opção pelo lançamento de Lula como candidato pode
guardar a solução do principal problema da campanha petista: o desgaste da
administração de Dilma Rousseff. A candidatura de Lula pode, assim, vincular
todos os fatores negativos à gestão de Dilma, fomentando a ideia de que Lula
poderia trazer de volta a bonança de seus anos de governo.
Além do panorama eleitoral, é preciso considerar fatores internos
ao PT, na busca do significado do “Volta Lula”. Difícil distinguir o momento
exato no qual o PT mudou sua orientação básica: de um partido de massas, para
um grande partido. Essa mudança pouco tem a ver com o número de filiados ou com
a conquista de postos na administração pública, mas sim com o núcleo da vida
partidária. Por muito tempo, o PT foi notório por suas dissensões internas,
assim como por seu conturbado processo decisório, o que indicava que a dinâmica
do partido se encontrava em sua aguerrida militância. Hoje, o centro das atenções é o
ex-presidente Lula, que tem cada uma de suas palavras interpretadas como um
proclame de diretrizes partidárias. A dinâmica petista se tornou extremamente
dependente dos humores de uma única liderança, atrelando conveniências
eleitorais pessoais à decisão de rumos programática.
O fenômeno do "Volta Lula" indica, assim, não só o grau
de centralização interna ao qual chegou o PT, mas principalmente o nível de
dependência psicológica dos membros do partido em relação a seu membro mais
famoso. Desprovido de figuras de referência nacional, especialmente no âmbito
eleitoral, o PT só pode mesmo contar com Lula; porém, mais grave do que isso, é
que o partido parece inerte quanto à possibilidade de ter de buscar outro caminho.
O apoio ao "Volta Lula" por parte da militância petista representa o
reconhecimento de que o partido, hoje, gira em torno de uma personalidade, seus
desejos e conveniências; iguala-se, assim, ao PDT de Leonel Brizola. Triste
destino para o partido que, com sua trajetória única na recente democracia
brasileira, representou o sonho de muitos brasileiros pela mudança na política
brasileira.
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