por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/08/2012 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
Quando surgiu no cenário político brasileiro, em
pleno processo de redemocratização, o Partido dos Trabalhadores podia ser
descrito através de uma palavra: esperança. Repleto de novos nomes e propostas
de mudança, o PT foi a grande novidade no panorama partidário brasileiro,
quando esse ressurgiu do bipartidarismo artificial imposto pelo regime militar.
A atuação do PT na política brasileira representava, muitas vezes, um
contraponto indispensável para a evolução das instituições democráticas
nacionais: o partido sempre reforçava o lembrete de que havia uma outra forma
de se proceder em relação à coisa pública, colocando-se como alternativa ao
passado de práticas clientelísticas que marcava a política brasileira.
Quando assume
o Governo Federal, em 2003, o PT alcança seu ápice político, deixando para trás
o tempo em que era apenas uma promessa. A busca de um novo discurso para o
partido deveria ter sido iniciada nesse exato momento, mas isso não ocorreu.
Parte considerável do PT se entregou a um pragmatismo sem limites, afirmando
ser esse uma parte importante da concretização das esperanças de outrora.
Porém, outra parte dos petistas preferiu não abandonar sua “zona de conforto”
tradicional, o histórico discurso da esperança.
As eleições de
2012 mostram nitidamente essa tendência. Em São Paulo, o
ex-presidente Lula se aliou ao mais simbólico adversário do PT na cidade com o
intuito de eleger um de seus protegidos; longe da esperança, o objetivo é a
vitória. Belo Horizonte, por sua vez, ilustra o extremo oposto: o candidato
Patrus Ananias é símbolo de uma época em que o PT dava seus primeiros passos
concretos, conquistava suas vitórias iniciais, alimentando a esperança de que
um dia poderia vir a transformar o Brasil.
O tão comemorado consenso do PT belo-horizontino,
mesmo se momentâneo e superficial, tem sua base e força na oportunidade que ele
dá, aos membros do partido, de reviver os “bons tempos”, nos quais se dedicavam
a debater esperanças em tempo integral. A enfadonha rotina administrativa da
Prefeitura Municipal, marcada pela metódica execução de projetos, deve
contribuir pouco para animar os petistas que se lançam em campanha na capital
mineira. Por outro lado, é palpável a vontade dos apoiadores de Patrus de
realizar uma campanha como “aquelas de antigamente”, marcada pela “militância
na rua”. Bandeiras e faixas, corações e vozes tomando as ruas, compondo a
prometida “onda vermelha”.
Tal viés
romântico e escapista já é a marca principal da campanha do PT em Belo Horizonte. A
despeito de seus méritos gerenciais, o candidato Patrus Ananias desempenha,
principalmente, o papel de símbolo de uma época em que não havia mensalões,
cachoeiras e cpis a assombrar o sono dos petistas. Patrus é hoje, para seus
apoiadores, a lembrança de tempos mais felizes. Cabe a ele, unicamente, mostrar
que é mais do que isso, especialmente se quiser contar com o voto dos eleitores
que não suspiram por bandeiras do passado, mas sim por ações concretas do Poder
Público.
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