quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eleições em BH: O poder do "aqui e agora"

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 23/08/2012 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
 
           Discretos, objetivos e, de forma alguma, carismáticos: os candidatos que polarizam a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte têm bastante em comum. Diferente do embate de 2008, quando estilos pessoais radicalmente opostos se confrontaram, na atual eleição a sobriedade impera. Uma vez que Márcio Lacerda e Patrus Ananias são ambos desprovidos do dom de “incendiar as massas” de eleitores quando estão no palanque, o que cada um deles conseguir agregar à sua imagem fará toda a diferença nas urnas.
O principal trunfo da campanha de Patrus está estampado em todo o material de propaganda petista: o apoio da Presidente Dilma Rousseff e, principalmente, do ex-presidente Lula. São apoios de peso, voltados principalmente para potencializar o maior capital político de Patrus Ananias diante do eleitorado belo-horizontino: sua gestão frente à Prefeitura no início da década de 1990. Nesse sentido, a vantagem do petista sobre Márcio Lacerda é enorme, pois o principal aliado do atual prefeito, o Senador Aécio Neves, pouco tem se envolvido na disputa pelo comando da Capital mineira. Também no campo de Lacerda, o Governador Antônio Anastásia pouco fez além de bebericar um ou dois cafezinhos na Praça Sete, na companhia de seu candidato preferido.
           O eleitor belo-horizontino, entretanto, parece indiferente a tal jogo de forças: em sucessivas pesquisas eleitorais, tem demonstrado apoio significativo a Márcio Lacerda. Uma explicação bastante sensata parece vir do poder que o eleitor atribui ao “aqui e agora”, ou seja, aquilo que se pode ver, sentir e experimentar imediatamente. A grande quantidade de obras realizadas em Belo Horizonte hoje oferece ao cidadão uma imagem muito nítida como poderá vir a ser um segundo mandato de Márcio Lacerda; uma visão naturalmente associada às idéias de progresso e dinamismo.
          A administração de Patrus Ananias à frente da Prefeitura de Belo Horizonte representa, para a maioria das pessoas, um conceito distante da realidade atual: uma inovação como o Orçamento Participativo, por exemplo, só é valorizada por quem vivenciou sua construção de perto. Querer que, para o eleitor, o passado seja mais empolgante que o futuro é, sem dúvida, um exercício de auto-ilusão. No mesmo sentido atuam os apoios de Dilma e Lula, notórios por negarem durante uma década a realização do maior sonho do belo-horizontino, a ampliação do metrô; pior, a dupla de presidentes petistas privilegiou, nesse período, o financiamento de obras semelhantes em várias outras cidades brasileiras, e até na Venezuela.
   
         É bom lembrar que as eleições municipais têm um caráter marcadamente gerencial, sendo relativo o valor de trunfos políticos, históricos e simbólicos. Vivendo o dia-a-dia da cidade, o eleitor belo-horizontino parece basear suas expectativas nos problemas concretos que enfrenta, construindo sua opinião com muito pragmatismo. Em suma, trata-se de um jogo no qual os “coringas” políticos têm poder limitado, sobretudo se confrontados com tratores e rolos-compressores.

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