quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Brasil como ator mundial

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/08/2012 do Hoje em Dia - Belo Horizonte, Minas Gerais)


O governo do Haiti solicitou, e foi atendido em julho, assistência formal do Brasil para reconstruir suas forças armadas. Um pacote de medidas de apoio está sendo negociado, a partir da condição brasileira de que os novos militares deverão ser estritamente profissionais, desligados do turbulento cenário político haitiano, e que possam assumir as tarefas hoje desempenhadas pelos soldados da ONU presentes no país.
Comandante da missão das Nações Unidas por ter contribuído com o maior contingente militar, o Brasil não recebeu o pedido haitiano por acaso. Quando a política externa brasileira passou a buscar horizontes mais amplos, sobretudo na década de 2000, não só começaram a surgir compromissos de tipos distintos, como também novas oportunidades políticas e comerciais. Interessante destacar a maturidade da sociedade brasileira para aceitar tal cenário, principalmente em comparação com o ano de 1999, quando houve repúdio generalizado ao envio de um grande contingente brasileiro para a pacificação do Timor Leste.
Faz parte também da nova postura brasileira no mundo o plano de recuperação da indústria bélica nacional, uma série de medidas de incentivo lançada em setembro de 2011 pelo Governo Federal. Grande exportadora nas décadas de 1970 e 1980, a indústria de armamentos brasileira chegou a figurar entre as dez maiores do mundo, abastecendo conflitos como a Guerra Civil de Angola e a Guerra Irã-Iraque. Recuperar o poderio militar brasileiro significa, assim, voltar ao centro do debate sobre a responsabilidade da indústria armamentista na construção da miséria humana.
Não há dúvida quanto ao valor humanitário do trabalho que as tropas brasileiras cumprem no Haiti, principalmente após o terremoto de 2010, quando dobramos o número de soldados para auxiliar as vítimas da tragédia. Também não se pode questionar os ganhos políticos, pois o Brasil é cada vez mais visto como referência por muitos países. Porém, é preciso que a sociedade brasileira participe do debate acerca dos efeitos colaterais dessa nova forma de se posicionar diante do mundo, pois corremos o risco de trocar os valores pacifistas, tão caros a nosso povo, por ganhos econômicos limitados e passageiros. Vale lembrar que, até hoje, a paz tem sido o principal capital político do Brasil diante do mundo.

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