por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/11/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Os
resultados do primeiro turno das eleições de 2016 indicaram a gravidade da
derrota sofrida pelo PT. As análises buscavam entender as origens e possíveis
desdobramentos desse fenômeno, sobretudo em relação ao panorama de 2018. O que
poucos esperavam, porém, é que o segundo turno traria fatos políticos tão
significativos: a derrota de João Leite em Belo Horizonte representou um revés
profundo na estratégia do senador Aécio Neves para pleitear a Presidência da
República dentro de dois anos.
Inicialmente,
convém lembrar que o nome de João Leite enfrentava fortes resistências no PSDB
mineiro quando o partido discutia os rumos da campanha municipal. Pesavam
contra Leite as duas tentativas fracassadas de chegar ao comando da capital
mineira, em 2000 e 2004, porém mais importante do que isso era a
responsabilidade que estaria em jogo em 2016: qualquer que fosse o candidato
apoiado pelo PSDB, esse deveria consolidar a suposta liderança de Aécio Neves sobre
o eleitorado de belorizontino, expresso em 2014 pela obtenção de praticamente
70% dos votos válidos.
Apesar
de tantos fatores em jogo, a escolha dos tucanos por João Leite acabou
acontecendo de maneira um tanto atabalhoada: quando o prefeito Márcio Lacerda
anunciou apoio à candidatura de seu correligionário Paulo Brant, interrompendo
as negociações com o PSDB em torno de uma chapa unificada, rapidamente Leite
ganhou força em seu partido, como reação ao rompimento de Lacerda. Não foi,
portanto, o início ideal para a campanha.
A
campanha de Alexandre Kalil, proclamando independência em relação a muitas das
lideranças políticas que apoiavam Leite, fez com que o senador Aécio Neves
estivesse em evidência quase constante, em uma dinâmica diferente da
tradicional troca de apoios que caracteriza as alianças eleitorais. É inegável,
portanto, a presença de um certo caráter plebiscitário nas eleições de Belo
Horizonte, confrontando nomes e estilos tradicionais da política com a relativa
novidade encarnada por Kalil.
O
desgaste sofrido por Aécio em Belo Horizonte reforça a lembrança da derrota
sofrida por ele em Minas dois anos atrás: ambas valem não só pelos números
eleitorais, mas principalmente como prova da dificuldade do senador em
conseguir votos em sua região de origem. O insistente alheamento de Aécio em
relação à política mineira cobra-lhe, novamente, um alto preço. É fato que
outros fatores contribuíram para tais resultados, mas a dinâmica da política
brasileira valoriza resultados, e não desculpas.
A
cúpula do PSDB nacional tem agora motivos de sobra para tirar de cogitação o
nome de Aécio das especulações em torno da composição da chapa presidencial
tucana de 2018. No mesmo sentido, o surgimento de delações da Odebrecht
envolvendo o ministro José Serra abala as pretensões de mais um tucano com
força no partido. Agora, o governador paulista Geraldo Alckmin, raro caso de
político que conseguiu alavancar a eleição de um novato para cargo relevante em
2016, desponta como o favorito para liderar o PSDB em 2018.
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