terça-feira, 8 de novembro de 2016

Perdedores e ganhadores de 2016

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/11/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Os resultados do primeiro turno das eleições de 2016 indicaram a gravidade da derrota sofrida pelo PT. As análises buscavam entender as origens e possíveis desdobramentos desse fenômeno, sobretudo em relação ao panorama de 2018. O que poucos esperavam, porém, é que o segundo turno traria fatos políticos tão significativos: a derrota de João Leite em Belo Horizonte representou um revés profundo na estratégia do senador Aécio Neves para pleitear a Presidência da República dentro de dois anos.
Inicialmente, convém lembrar que o nome de João Leite enfrentava fortes resistências no PSDB mineiro quando o partido discutia os rumos da campanha municipal. Pesavam contra Leite as duas tentativas fracassadas de chegar ao comando da capital mineira, em 2000 e 2004, porém mais importante do que isso era a responsabilidade que estaria em jogo em 2016: qualquer que fosse o candidato apoiado pelo PSDB, esse deveria consolidar a suposta liderança de Aécio Neves sobre o eleitorado de belorizontino, expresso em 2014 pela obtenção de praticamente 70% dos votos válidos.
Apesar de tantos fatores em jogo, a escolha dos tucanos por João Leite acabou acontecendo de maneira um tanto atabalhoada: quando o prefeito Márcio Lacerda anunciou apoio à candidatura de seu correligionário Paulo Brant, interrompendo as negociações com o PSDB em torno de uma chapa unificada, rapidamente Leite ganhou força em seu partido, como reação ao rompimento de Lacerda. Não foi, portanto, o início ideal para a campanha.
A campanha de Alexandre Kalil, proclamando independência em relação a muitas das lideranças políticas que apoiavam Leite, fez com que o senador Aécio Neves estivesse em evidência quase constante, em uma dinâmica diferente da tradicional troca de apoios que caracteriza as alianças eleitorais. É inegável, portanto, a presença de um certo caráter plebiscitário nas eleições de Belo Horizonte, confrontando nomes e estilos tradicionais da política com a relativa novidade encarnada por Kalil.
O desgaste sofrido por Aécio em Belo Horizonte reforça a lembrança da derrota sofrida por ele em Minas dois anos atrás: ambas valem não só pelos números eleitorais, mas principalmente como prova da dificuldade do senador em conseguir votos em sua região de origem. O insistente alheamento de Aécio em relação à política mineira cobra-lhe, novamente, um alto preço. É fato que outros fatores contribuíram para tais resultados, mas a dinâmica da política brasileira valoriza resultados, e não desculpas.
A cúpula do PSDB nacional tem agora motivos de sobra para tirar de cogitação o nome de Aécio das especulações em torno da composição da chapa presidencial tucana de 2018. No mesmo sentido, o surgimento de delações da Odebrecht envolvendo o ministro José Serra abala as pretensões de mais um tucano com força no partido. Agora, o governador paulista Geraldo Alckmin, raro caso de político que conseguiu alavancar a eleição de um novato para cargo relevante em 2016, desponta como o favorito para liderar o PSDB em 2018.

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