por Paulo Diniz
(publicado na edição de 13/11/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O ano de 2016 ainda não chegou ao fim,
porém não há dúvida de que entrará para os livros de História. Ainda assim,
parece haver muito por vir: surgiu no Congresso Nacional um movimento de
deputados petistas interessado em discutir urgentemente a organização e os
rumos do partido, principalmente a partir dos desastrosos números que emergiram
das urnas no início de outubro. Essa verdadeira rebelião não parece uma simples
expressão de descontentamento: além de divulgar um manifesto e adotar o nome
Muda PT, esse movimento promete levar as dezenas de deputados que o apoiam a se
retirar do partido, caso não sejam tomadas medidas profundas de reforma nessa
agremiação.
Por mais que não se declare, o movimento trata
diretamente da figura do ex-presidente Lula, líder inconteste no partido desde
que foi eleito para o Palácio do Planalto em 2002. Essa data, que marcou o
início da mais próspera era na vida eleitoral e política do partido, também o
lançou em sua maior decadência do ponto de vista intelectual e institucional: por
exemplo, não foram mais realizadas as acaloradas prévias nacionais do PT, nas
quais as diferentes facções disputavam abertamente o direito de indicar o
candidato do partido nas eleições. Essa prática, que muitos criticavam por
acirrar rivalidades, fazia do PT um partido muito diferente dos demais, e foi
justamente com base em suas peculiaridades que o partido cultivou a esperança
em cada vez mais brasileiros ao longo da década de 1990, até cativar a maioria.
Em contradição com sua trajetória histórica,
na última década o PT se tornou progressivamente uma agremiação de cunho
personalista, adaptando-se às conveniências pessoais e eleitorais de Lula;
chegou ao ponto de reproduzir a relação que existia entre Leonel Brizola e o
seu PDT. A escolha de Dilma Rousseff como candidata a presidente em 2010 deixou
clara essa situação, uma vez que seu nome contava com a rejeição de
praticamente todos, menos de Lula.
Ao longo dos anos, os petistas
desenvolveram dois tipos de dependência em relação à figura de Lula: sentimental
e eleitoral. Na primeira, trata-se de mais um dos típicos romances que os
militantes de esquerda costumam nutrir em relação às figuras públicas de seus
partidos: uma dinâmica que parece intrínseca a essa corrente política. Já a
dependência eleitoral é de cunho mais concreto, a se baseia na ideia de que o
PT talvez não possua outra figura de amplitude nacional que possa obter um bom
resultado nas urnas. Ambas tendências se reforçam mutuamente, sedimentando um
verdadeiro tabu interno ao PT no que se refere a questionamentos em relação ao
nome do ex-presidente Lula.
Arguto como sempre, Lula percebeu que seu
futuro está em jogo, e agora se movimenta intensamente para manter voz ativa no
processo de transição, e de preferência, também depois desse. De toda forma, o
debate iniciado pelo Muda PT é uma boa novidade, pois promete romper um dos
dogmas da política nacional, abrindo novamente espaço para a diversidade de
pensamentos e opiniões.
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