segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Muda PT: fora Lula?

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 13/11/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O ano de 2016 ainda não chegou ao fim, porém não há dúvida de que entrará para os livros de História. Ainda assim, parece haver muito por vir: surgiu no Congresso Nacional um movimento de deputados petistas interessado em discutir urgentemente a organização e os rumos do partido, principalmente a partir dos desastrosos números que emergiram das urnas no início de outubro. Essa verdadeira rebelião não parece uma simples expressão de descontentamento: além de divulgar um manifesto e adotar o nome Muda PT, esse movimento promete levar as dezenas de deputados que o apoiam a se retirar do partido, caso não sejam tomadas medidas profundas de reforma nessa agremiação.
Por mais que não se declare, o movimento trata diretamente da figura do ex-presidente Lula, líder inconteste no partido desde que foi eleito para o Palácio do Planalto em 2002. Essa data, que marcou o início da mais próspera era na vida eleitoral e política do partido, também o lançou em sua maior decadência do ponto de vista intelectual e institucional: por exemplo, não foram mais realizadas as acaloradas prévias nacionais do PT, nas quais as diferentes facções disputavam abertamente o direito de indicar o candidato do partido nas eleições. Essa prática, que muitos criticavam por acirrar rivalidades, fazia do PT um partido muito diferente dos demais, e foi justamente com base em suas peculiaridades que o partido cultivou a esperança em cada vez mais brasileiros ao longo da década de 1990, até cativar a maioria.
Em contradição com sua trajetória histórica, na última década o PT se tornou progressivamente uma agremiação de cunho personalista, adaptando-se às conveniências pessoais e eleitorais de Lula; chegou ao ponto de reproduzir a relação que existia entre Leonel Brizola e o seu PDT. A escolha de Dilma Rousseff como candidata a presidente em 2010 deixou clara essa situação, uma vez que seu nome contava com a rejeição de praticamente todos, menos de Lula.
Ao longo dos anos, os petistas desenvolveram dois tipos de dependência em relação à figura de Lula: sentimental e eleitoral. Na primeira, trata-se de mais um dos típicos romances que os militantes de esquerda costumam nutrir em relação às figuras públicas de seus partidos: uma dinâmica que parece intrínseca a essa corrente política. Já a dependência eleitoral é de cunho mais concreto, a se baseia na ideia de que o PT talvez não possua outra figura de amplitude nacional que possa obter um bom resultado nas urnas. Ambas tendências se reforçam mutuamente, sedimentando um verdadeiro tabu interno ao PT no que se refere a questionamentos em relação ao nome do ex-presidente Lula.
Arguto como sempre, Lula percebeu que seu futuro está em jogo, e agora se movimenta intensamente para manter voz ativa no processo de transição, e de preferência, também depois desse. De toda forma, o debate iniciado pelo Muda PT é uma boa novidade, pois promete romper um dos dogmas da política nacional, abrindo novamente espaço para a diversidade de pensamentos e opiniões.

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