segunda-feira, 21 de março de 2016

Polarizando a afastando aliados

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 13/03/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A condução coercitiva de Lula para prestar depoimento foi um acontecimento que será lembrado com destaque quando for contada a história do nosso tempo. Por enquanto, como os fatos ainda são recentes, o desafio é compreender para qual direção caminhará essa história. Assim, é importante diferenciar quais ações políticas verificadas podem ser classificadas como previsíveis e, também, os desdobramentos que não podiam ser esperados.
O fato que deu origem à presente conjuntura, por exemplo, reside no campo do inesperado: no dia 29 de fevereiro, a defesa de Lula comunicou à imprensa que o ex-presidente não iria atender às convocações do Ministério Público de São Paulo, informando que optava por prestar esclarecimentos por meio de carta. Esse desafio, posto ao Estado como um todo, buscava encerrar uma sequência de chicanas processuais que vinham protelando o comparecimento de Lula perante aqueles que o investigavam. Mais imprevisível ainda foi a atitude do Estado brasileiro, por meio da Justiça Federal: cobrir a aposta feita por Lula, usando da força policial para reafirmar a sujeição que todos devem ter perante a lei.
A partir desses dois lances surpreendentes, nenhum outro pode ser classificado como inesperado: da polarização política convocada por Lula, até a reaproximação limitada e estratégica de Dilma em relação ao ex-presidente, passando pela precipitação da disputa de 2018. A indecisão e tibieza da oposição também não são novidades, pois condizem com o padrão de comportamento insosso adotado por essa desde 2003.
Para além disso, é importante observar os fatos que, mesmo previsíveis, acontecem nas sombras do poder, como a sustentação política do governo. Considerando que, em 2015, a disposição dos aliados de Dilma para defendê-la diminuiu consideravelmente, o contexto atual se mostra como um colapso na empatia geral pela presidente. No ambiente de polarização que vem surgindo, é pouco provável que a maior parte dos partidos da base aliada esteja disposta a associar seus destinos à sorte do desgastado PT.
Sendo o brasileiro historicamente avesso a enfrentamentos políticos em público, o mais provável é que o PT se encontre virtualmente sozinho nas guerras que promete lutar em defesa de seu líder único e inconteste, o ex-presidente Lula. As manifestações antigoverno convocadas para 13 de março constituem, portanto, um evento crucial para que possamos acompanhar os rumos políticos do país. Caso se produzam cenas de enfrentamento, necessariamente a retórica inflamada de Lula será vista como culpada pela opinião pública e, portanto, mais apoios perderá Dilma.
É pouco provável que esse esvaziamento político do governo se dê com estardalhaço, mas certamente poderá ser percebido nos momentos em que Dilma necessitar de apoio legislativo. O processo de impeachment, recém-reformado pelo STF, constitui uma situação ideal para que os parlamentares nacionais expressem seu desejo de abandonar o navio petista, antes que aconteça um naufrágio cada vez mais previsível.

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