por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/03/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
imprensa vem destacando, recentemente, o estado de abandono no qual se encontram
alguns estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014. Em Cuiabá e Manaus o
descaso é gritante, enquanto em Minas, as boas condições do Mineirão custam centenas
de milhões de reais por ano aos falidos cofres estaduais, mesmo sendo a gestão
desse estádio entregue à iniciativa privada. Se somamos esse quadro à lista de
promessas não cumpridas em relação às obras de mobilidade urbana, que tinham
por motivação o mega-evento esportivo, fica fácil perceber que o tão esperado
“legado da Copa” não se concretizou.
A
desconfiança de que isso acontecesse foi aventada por muitos durante os
conturbados anos de preparação para a Copa, mas acabou predominando o otimismo
cego, inflado por um governo que taxava como pessimista quem lhe fosse crítico.
Essa epopeia vale a pena ser relembrada não apenas porque nos aproximamos da
realização das olimpíadas, mas porque o fantasma da Copa se recusa a ir embora:
os vereadores de Belo Horizonte discutem o perdão de R$ 150 milhões em multas aos
empresários que, dotados de autorizações especiais para construir hotéis para a
Copa, ainda hoje não concluíram tais obras.
Frente
a esse contexto, vemos Belo Horizonte embarcar em uma nova “corrida do ouro”: a
elevação do conjunto arquitetônico da Pampulha à condição de patrimônio
cultural da humanidade, título concedido pela Unesco. Não há dúvida quanto à
justeza dessa escolha, uma vez que os traços de Oscar Niemeyer, que ornamentam
a orla da lagoa, são reconhecidos e valorizados em todo o mundo. Ocorre que,
como tem ficado cada vez mais claro, para receber a comenda não basta organizar
uma bela festa: serão demandadas obras. O custo da demolição de parte do Iate
Tênis Clube, em conflito estético com o conjunto da Pampulha, está sendo
estimado em cerca de oito milhões de reais. Mesmo não estando claro quem arcará
com essas despesas, podemos nos apoiar na história brasileira para prever que o
custo final será muito maior, e que caberá ao contribuinte banca-lo. O debate
sobre o legado que adviria da obtenção do título de patrimônio cultural da humanidade
anda, em Belo Horizonte, a passos lentos. O clássico argumento do aumento do
fluxo de turistas volta à tona, tão desprovido de números como nos debates que
antecederam à Copa.
Enquanto
os defensores dos mega-projetos ainda esperam pelas hordas de turistas, que
invadiriam Belo Horizonte após a Copa de 2014, uma importante lição foi dada
para aqueles dispostos a aprender: o famoso chef Anthony Bourdain passou,
recentemente, uma semana circulando por Belo Horizonte, conhecendo nossa
culinária e gravando mais um episódio de seu programa de televisão, que é
transmitido para todo o planeta pela rede de notícias CNN. Tudo indica,
portanto, que a porção de fígado acebolado acompanhada de cerveja gelada, dupla
típica da capital das Alterosas, parece ser muito mais eficiente para atrair as
atenções do mundo do que os grandes eventos que tanto animam os políticos.
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