por Paulo Diniz
(publicado na edição de 04/10/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Os
refugiados que caminham pela Europa em busca de vida melhor têm marcado o mundo
pelas imagens emblemáticas produzem. O corpo do menino sírio Aylan, afogado enquanto
sua família tentava chegar à Grécia, comoveu governos e multidões, gerando uma
onda de apoio aos outros milhares de pessoas que se dirigem, sobretudo, à
Alemanha e Suécia. Dessa tragédia, enfim, nasceram solidariedade e compaixão. Outra
imagem se deu em território europeu: a cinegrafista húngara Petra Lazslo derrubava
e chutava refugiados sírios, ao mesmo tempo em que registrava a fuga
desesperada desses, caçados polícia da Hungria. O mundo despertou para a
brutalidade do governo da Hungria, assim como do povo que o apoia.
Membro
recente da União Europeia, pois aderiu ao bloco em 2004, a Hungria ergueu uma
cerca ao longo de toda a fronteira com a Sérvia, principal rota de passagem dos
refugiados. Como essa medida não surtiu efeito, o governo húngaro adotou
postura mais enérgica: criou legislação criminal voltada para coibir a entrada
ilegal de pessoas no país, deslocando juízes para as áreas de fronteira com o
intuito punir com mais rapidez os refugiados. Prefeituras de várias cidades
húngaras têm aconselhado seus habitantes a não fazer contato com os refugiados,
sob a alegação de que esses seriam portadores de doenças contagiosas; tropas
deslocadas para as áreas de fronteira já usaram canhões de água e spray de
pimenta para dispersar multidões exaustas e repletas de crianças.
O
primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, argumenta estar defendendo os valores
e o modo de vida europeu, fingindo ignorar quão recente é a própria presença de
seu país na UE. Orquestrando toda essa ação brutal, o líder da Hungria viu sua
popularidade crescer junto à população desde o meio do ano, o que pode ser
interpretado como o consentimento do eleitorado à maneira como seu governo vem
lidando com a crise humanitária. A retórica nacionalista, portanto, ganhou mais
força, com acusações de que o país se encontra sob ameaça de uma invasão estrangeira,
e a promessa de que a cerca anti-refugiados será estendida também para a divisa
com a Croácia. No mesmo sentido, o governo de Orban tem custeado anúncios, de
página inteira, nos jornais de maior circulação do Líbano e da Jordânia,
avisando aos refugiados que se encontram ainda nesses países para que não se
dirijam à Hungria, uma vez que lá chegando, serão presos.
O
desgaste sofrido pela Hungria no cenário internacional tem sido enorme, algo
que deveria ser levado em conta por um país que tem cerca de 9% de seu PIB
originado no setor de turismo. Em 2014 apenas, quase 32.000 brasileiros
visitaram a Hungria, segundo dados do governo desse país. A julgar pela
onipresença de cercas, tropas e dificuldade de movimentos, certamente milhares
de pessoas irão pensar duas vezes antes de visitar um país que se assemelha
cada vez mais com a Faixa de Gaza: um destino que, apesar das belas praias
mediterrâneas, está longe de ser considerado como sinônimo de bem estar e
relaxamento.
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