sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O especulador

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/10/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Ministro das Cidades e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab vem causando alvoroço na cena política ao pressionar pela criação de mais um partido, o Liberal. Trata-se da segunda vez, em quatro anos, na qual Kassab adota a mesma estratégia para incrementar seu prestígio: não apenas busca criar um partido, como também recupera o nome de uma agremiação extinta.
Em 2011, o nome do antigo partido que abrigou figuras como Juscelino Kubitschek foi usado para batizar a agremiação articulada por Kassab em sua saída do Democratas. O “novo” PSD, pensado a partir dos desvãos da legislação eleitoral, pode ser considerado um sucesso pelo critério de seu mentor: recebeu a adesão de vários políticos com mandato, já que o surgimento de um novo partido é situação na qual a migração partidária é autorizada sem o risco de perda do cargo eletivo. Cacifado pela constelação que reuniu, Gilberto Kassab entrou para a base do governo de Dilma Rousseff pela porta da frente: de político sem mandato filiado a um decadente partido de oposição, passou a comandar uma das pastas de maior orçamento do Governo Federal.
A política, entretanto, segue em muitos aspectos as regras inexoráveis da economia, segundo as quais a riqueza que se produz de forma especulativa costuma ter fôlego curto. Ao testar as regras do jogo partidário, Kassab produz mais uma aparência de poder do que, de fato, os fatores estruturais que fazem com que as lideranças partidárias sejam respeitadas e tenham seu apoio cobiçado. Assim, se o que levou muitos políticos a aderir ao PSD foi a conveniência pessoal na manutenção de suas carreiras, nada há nessa equação que obrigue os novos integrantes desse partido a submeterem seus planejamentos eleitorais à liderança de Kassab; afinal, uma constelação de nomes não forma um partido coeso. Se instado a agir como grupo coordenado, em favor do governo, em alguma situação que gere desgaste político, é provável que o PSD se constitua como uma decepção para Dilma.
Tenso como anda o quadro político brasileiro, com o PMDB cada vez mais se colocando como pretendente ao comando do Governo Federal, não poderia haver momento mais inoportuno para um novo malabarismo institucional de Gilberto Kassab. A recriação do PL, mesmo que ainda pendente de autorização por parte do Superior Tribunal Eleitoral, foi vista como um desafio à posição de conforto ocupada pelo PMDB; pior, esse movimento tem sido atribuído também à cúpula petista, beneficiária que seria da criação de uma bancada de apoio parlamentar mais dócil. Ameaçado na própria raiz de seu poder, o PMDB pode se unir em nome da autodefesa, adotando postura ainda mais agressiva em relação ao Planalto.

Os efeitos da especulação político-partidária podem extrapolar em muito os interesses diretos de seus articuladores iniciais: assim como Eike Batista enfrenta hoje uma amarga derrocada, consequência de suas manipulações no mercado financeiro, também Gilberto Kassab parece construir para si, no futuro, uma estrondosa bancarrota política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário