(publicado na edição de 18/10/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Ministro
das Cidades e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab vem causando alvoroço
na cena política ao pressionar pela criação de mais um partido, o Liberal.
Trata-se da segunda vez, em quatro anos, na qual Kassab adota a mesma
estratégia para incrementar seu prestígio: não apenas busca criar um partido,
como também recupera o nome de uma agremiação extinta.
Em
2011, o nome do antigo partido que abrigou figuras como Juscelino Kubitschek
foi usado para batizar a agremiação articulada por Kassab em sua saída do
Democratas. O “novo” PSD, pensado a partir dos desvãos da legislação eleitoral,
pode ser considerado um sucesso pelo critério de seu mentor: recebeu a adesão
de vários políticos com mandato, já que o surgimento de um novo partido é situação
na qual a migração partidária é autorizada sem o risco de perda do cargo
eletivo. Cacifado pela constelação que reuniu, Gilberto Kassab entrou para a
base do governo de Dilma Rousseff pela porta da frente: de político sem mandato
filiado a um decadente partido de oposição, passou a comandar uma das pastas de
maior orçamento do Governo Federal.
A
política, entretanto, segue em muitos aspectos as regras inexoráveis da
economia, segundo as quais a riqueza que se produz de forma especulativa
costuma ter fôlego curto. Ao testar as regras do jogo partidário, Kassab produz
mais uma aparência de poder do que, de fato, os fatores estruturais que fazem
com que as lideranças partidárias sejam respeitadas e tenham seu apoio
cobiçado. Assim, se o que levou muitos políticos a aderir ao PSD foi a
conveniência pessoal na manutenção de suas carreiras, nada há nessa equação que
obrigue os novos integrantes desse partido a submeterem seus planejamentos
eleitorais à liderança de Kassab; afinal, uma constelação de nomes não forma um
partido coeso. Se instado a agir como grupo coordenado, em favor do governo, em
alguma situação que gere desgaste político, é provável que o PSD se constitua
como uma decepção para Dilma.
Tenso
como anda o quadro político brasileiro, com o PMDB cada vez mais se colocando
como pretendente ao comando do Governo Federal, não poderia haver momento mais
inoportuno para um novo malabarismo institucional de Gilberto Kassab. A
recriação do PL, mesmo que ainda pendente de autorização por parte do Superior
Tribunal Eleitoral, foi vista como um desafio à posição de conforto ocupada
pelo PMDB; pior, esse movimento tem sido atribuído também à cúpula petista,
beneficiária que seria da criação de uma bancada de apoio parlamentar mais
dócil. Ameaçado na própria raiz de seu poder, o PMDB pode se unir em nome da
autodefesa, adotando postura ainda mais agressiva em relação ao Planalto.
Os
efeitos da especulação político-partidária podem extrapolar em muito os
interesses diretos de seus articuladores iniciais: assim como Eike Batista
enfrenta hoje uma amarga derrocada, consequência de suas manipulações no
mercado financeiro, também Gilberto Kassab parece construir para si, no futuro,
uma estrondosa bancarrota política.
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