por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/10/2015 do Correio de Uberlândia - Uberlândia, Minas Gerais - e na de 11/10/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
filiação do prefeito de Barbacena, Toninho Andrada, ao PSB de Márcio Lacerda
foi notícia que não produziu repercussão no noticiário político recente.
Compreende-se, uma vez que essa aconteceu em meio a várias outras trocas de
partido, por parte de políticos de destaque, com vistas às eleições de 2016. A
migração de Andrada, porém, tem significado maior do que se pode perceber,
principalmente porque parece fazer parte de um movimento amplo, voltado para a
campanha estadual de 2018, e não apenas ligado às disputas locais do ano que
vem.
Inicialmente,
é preciso considerar o fator simbólico envolvido: os Andradas constituem uma
das mais antigas e influentes famílias políticas de Minas Gerais e do Brasil,
sendo difícil nomear um evento histórico que não tenha contado com a
participação decisiva de um dos membros do clã. Desde a Independência do
Brasil, articulada pelo patriarca da família, passando pela Revolução de 1930,
que tinha um Andrada no governo mineiro e que só teve início a partir de sua
aprovação: o poder e a habilidade política fazem parte da definição dessa
família.
Entretanto,
além do apoio qualificado que Márcio Lacerda ganha na articulação de seu grupo
político, mais importante é atentar para o fato de que o prefeito da Capital
está estabelecendo uma importante base de poder fora da Região Metropolitana de
Belo Horizonte, área na qual já é conhecido e popular. O sucesso desse movimento
será visto no futuro, a partir da definição das lideranças municipais que
ocorrerá em 2016; porém, o mais importante já se pode identificar: o interesse
de Lacerda em construir uma candidatura competitiva para disputar o comando de
Minas. Complexa como é a política mineira, só se pode pleitear de fato o
Palácio da Liberdade quando se tem presença nas dez regiões mineiras; o
destaque obtido em Belo Horizonte não se transfere ao interior.
A
estratégia estadual de Márcio Lacerda, da qual se pode ver indícios cada vez
mais numerosos com o tempo, transcende o campo da simples especulação sobre as
perspectivas pessoais de poder das principais lideranças políticas do Estado:
envolve, principalmente, o reequilíbrio do jogo de forças da atual oposição ao
governo petista de Fernando Pimentel. Em 2014, Lacerda não pôde contar com o
apoio do PSDB de Aécio Neves, optando por permanecer na prefeitura de Belo
Horizonte, após um certo período de suspense e hesitação: abortou suas
pretensões estadualistas que, mesmo nunca assumidas, sempre foram mal
disfarçadas. A se confirmar o crescimento do PSB de Márcio Lacerda no interior
mineiro, é possível prever a relação entre esse e Aécio em outros termos em
2018: considerando o distanciamento do senador em relação ao cotidiano da
política em suas bases eleitorais, é provável que esse acabe sendo o recebedor,
e não mais o provedor, de apoio eleitoral na próxima disputa estadual. A
reconstrução do grupo político que fará frente ao PT em 2018 pode ocorrer sob
uma nova liderança, diferente da que predominou em Minas entre 2003 e 2014.
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