terça-feira, 13 de outubro de 2015

Márcio Lacerda: No caminho para Barbacena

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/10/2015 do Correio de Uberlândia - Uberlândia, Minas Gerais - e na de 11/10/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A filiação do prefeito de Barbacena, Toninho Andrada, ao PSB de Márcio Lacerda foi notícia que não produziu repercussão no noticiário político recente. Compreende-se, uma vez que essa aconteceu em meio a várias outras trocas de partido, por parte de políticos de destaque, com vistas às eleições de 2016. A migração de Andrada, porém, tem significado maior do que se pode perceber, principalmente porque parece fazer parte de um movimento amplo, voltado para a campanha estadual de 2018, e não apenas ligado às disputas locais do ano que vem.
Inicialmente, é preciso considerar o fator simbólico envolvido: os Andradas constituem uma das mais antigas e influentes famílias políticas de Minas Gerais e do Brasil, sendo difícil nomear um evento histórico que não tenha contado com a participação decisiva de um dos membros do clã. Desde a Independência do Brasil, articulada pelo patriarca da família, passando pela Revolução de 1930, que tinha um Andrada no governo mineiro e que só teve início a partir de sua aprovação: o poder e a habilidade política fazem parte da definição dessa família.
Entretanto, além do apoio qualificado que Márcio Lacerda ganha na articulação de seu grupo político, mais importante é atentar para o fato de que o prefeito da Capital está estabelecendo uma importante base de poder fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte, área na qual já é conhecido e popular. O sucesso desse movimento será visto no futuro, a partir da definição das lideranças municipais que ocorrerá em 2016; porém, o mais importante já se pode identificar: o interesse de Lacerda em construir uma candidatura competitiva para disputar o comando de Minas. Complexa como é a política mineira, só se pode pleitear de fato o Palácio da Liberdade quando se tem presença nas dez regiões mineiras; o destaque obtido em Belo Horizonte não se transfere ao interior.
A estratégia estadual de Márcio Lacerda, da qual se pode ver indícios cada vez mais numerosos com o tempo, transcende o campo da simples especulação sobre as perspectivas pessoais de poder das principais lideranças políticas do Estado: envolve, principalmente, o reequilíbrio do jogo de forças da atual oposição ao governo petista de Fernando Pimentel. Em 2014, Lacerda não pôde contar com o apoio do PSDB de Aécio Neves, optando por permanecer na prefeitura de Belo Horizonte, após um certo período de suspense e hesitação: abortou suas pretensões estadualistas que, mesmo nunca assumidas, sempre foram mal disfarçadas. A se confirmar o crescimento do PSB de Márcio Lacerda no interior mineiro, é possível prever a relação entre esse e Aécio em outros termos em 2018: considerando o distanciamento do senador em relação ao cotidiano da política em suas bases eleitorais, é provável que esse acabe sendo o recebedor, e não mais o provedor, de apoio eleitoral na próxima disputa estadual. A reconstrução do grupo político que fará frente ao PT em 2018 pode ocorrer sob uma nova liderança, diferente da que predominou em Minas entre 2003 e 2014.

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