(publicado na edição de 10/05/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Causou
intensa polêmica a escolha dos homenageados com a entrega da Medalha da
Inconfidência, realizada em Ouro Preto no dia 21 de abril. O Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e o líder do Movimento dos Sem Terra,
João Pedro Stédile, foram os mais controversos dentre os agraciados, o que
inclusive levou alguns laureados do passado a devolver suas comendas por
correio. Mais do que combustível para a ira da oposição ao Governo mineiro,
esse episódio guarda mais significados do que a retórica das principais lideranças
políticas estaduais nos deixa perceber de imediato.
Inicialmente,
é preciso considerar que a escolha dos agraciados com tais comendas compõe um
processo intrinsecamente político: por mais que não reflita benefício financeiro
ou de qualquer ordem prática, a concessão de distinções aos cidadãos que mais
contribuíram com a coletividade tem papel destacado na história brasileira.
Durante o período Monárquico, a distribuição de títulos de nobreza não hereditários
foi importante para fortalecer a linha política que mais interessasse ao
Imperador no momento, mesmo que esse não detivesse papel político de fato.
Satisfeitos com a deferência feita pelo poder, muitas lideranças políticas
regionais permaneceram fiéis ao regime por mais tempo do que ficariam se não
tivessem seu orgulho pessoal vinculado à Corte do hábil Dom Pedro II.
É
inevitável, assim, que cada governo busque cativar as personalidades que
puderem contribuir com seu projeto político; é nesse sentido pragmático que se
deve avaliar o posicionamento do governador Fernando Pimentel. Comparar os
méritos pessoais de quem foi homenageado no passado e no presente implica em
grande risco de se produzir resultados igualmente desanimadores.
Avaliando
a política de alianças que busca construir Pimentel ao homenagear Lewandowski e
Stédile, fica clara a aproximação do governador em relação à esfera nacional do
PT. Ao trazer para Ouro Preto figuras estimadas tanto por Dilma quanto por
Lula, Pimentel empresta um pouco do prestígio ascendente do PT mineiro para a
combalida instância federal de seu partido; oferta generosa para uma presidente
que conta com apenas 13% de apoio popular em âmbito nacional.
A
profissão de fé de Pimentel ao petismo também serviu para desviar a atenção
geral de alguns aspectos desagradáveis da situação de Minas, como a falta de
recursos fiscais e a restrição de gastos que essa acarreta. Adepto da busca
pela eficiência da máquina pública, Fernando Pimentel precisa de todos os
apoios políticos que puder reunir, pois contraria a tendência tradicional dos
governos de esquerda manterem altos padrões de gasto.
Serve
de lembrete, da delicada conjuntura sobre a qual se sustenta o primeiro governo
petista de Minas, o protesto de professores da rede estadual que também tomou
Ouro Preto: demandam aumentos salariais da mesma forma que fizeram junto a
governos anteriores, e também como no passado, vão ter que adequar seus desejos
à realidade fiscal do Estado mineiro.
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