segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dilma versus PT: um cenário possível

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/05/20 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A votação da medida provisória que restringe o acesso dos trabalhadores ao seguro desemprego, indispensável para manter mais recursos nos cofres do governo de Dilma Rousseff e viabilizar seu ajuste fiscal, trouxe à tona sinal importante da conjuntura política atual: o distanciamento que cresce entre a presidente e seu partido, marcado pela resistência da bancada petista em votar favoravelmente ao governo. Fato constante nos bastidores desde o primeiro mandato de Dilma, essa discordância tem ficado explícita à medida que declina a popularidade do governo. Assim, compreender essa dinâmica permite avaliar a capacidade do atual governo se sustentar no poder e viabilizar seus projetos.
Apesar de seu passado junto à esquerda militante, Dilma Rousseff apenas se filiou ao PT em 2001: foi no PDT gaúcho que a atual presidente trilhou a maior parte de sua carreira na política democrática. Apontada como sucessora de Lula ao longo de 2009, Dilma motivou resistência de correntes ideológicas internas ao PT, que apenas foram contidas por seu sucesso eleitoral. Agora que os baixos níveis de popularidade da presidente se somam a sucessivos escândalos de corrupção para alimentar pedidos de impeachment cada vez mais concretos, os antigos antagonismos voltam à tona.
Outra perspectiva interessante está relacionada ao posicionamento pessoal do ex-presidente Lula: fiador de Dilma por toda sua trajetória eleitoral, ele tem sua imagem pública fortemente vinculada à da atual mandatária. Caso queira voltar ao poder, Lula vai depender do desempenho de Dilma não só como gestora da máquina federal, mas principalmente como figura popular. Se não puder contar com esse apoio da presidente, mais útil seria a Lula se desvencilhar do legado desgastado de Dilma, seguindo a correnteza daqueles que se arrependeram do apoio emprestado a ela em 2014. Esse caminho já vem sendo explorado por Lula de forma experimental, o que se percebe pelas críticas esporádicas que o líder maior do petismo direciona ao atual governo. Testando a reação do público e do meio político, Lula avalia os possíveis efeitos de abandonar sua principal discípula; pode estar, também, avaliando apenas o momento mais adequado para concretizar tal ruptura, seguindo o calendário eleitoral.
Por paradoxal que pareça, um afastamento de grandes grupos do PT em relação ao governo se mostra como um cenário cada vez mais racional: permitiria ao partido manter cargos junto ao poder, ao mesmo tempo em que recuperaria seu discurso confortável e histórico de oposição. Comportando-se como um aprendiz do PMDB, o PT poderia então sustentar diferentes posições ao mesmo tempo, em uma pragmática estratégia para vencer em qualquer cenário.

Ao mesmo tempo em que abre perspectivas de vitória ao PT, essa estratégia cria uma terrível ameaça à governabilidade do governo Dilma. Se concretizada, será uma boa oportunidade para expor as reais fidelidades dos principais caciques petistas: se vinculadas ao benefício do país, ou apenas à manutenção do poder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário