segunda-feira, 4 de maio de 2015

Disputa política e reforma do Estado

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/05/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Sinal dos tempos, foi aprovada recentemente pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados uma proposta de emenda constitucional (PEC) que visa limitar o número de ministérios do Governo Federal a vinte pastas, alegadamente buscando conter o nível dos gastos da máquina pública. Partidários do governo afirmam que a medida, que está no início de um longo processo de tramitação, apresenta vários aspectos inconstitucionais, e que seria facilmente rejeitada em uma análise do Supremo Tribunal Federal. Porém, como no mundo da política as discussões valem mais pela retórica do que pelo conteúdo, é preciso analisar a conjuntura nacional que deu origem a essa situação para identificar seus limites.
Inicialmente, é bom notar que a PEC 299/13 foi proposta por Eduardo Cunha, do PMDB fluminense, que preside a Câmara dos Deputados e lidera o mais forte movimento de oposição ao governo petista desde 2003. Nesse sentido, uma medida que busca restringir o poder do Executivo federal faz muito sentido como parte da luta política travada pela maioria do PMDB, desde o início de 2015, por um lugar privilegiado no comando do governo petista.
Para além da refrega partidária, vale notar que o Legislativo vem atuando no corrente ano por meio de uma independência bem pouco comum ao Congresso Nacional, sendo capaz de contrariar vários interesses do governo de Dilma Rousseff, até mesmo em assuntos relacionados com o ajuste fiscal ora em curso. Chamado por muitos, com certo exagero, de arremedo parlamentarista, o atual equilíbrio de poder institucional é definitivamente algo a se comemorar. Independente de sua origem, obriga o Executivo federal a se conter, repensar e rediscutir seus meios e fins enquanto governo. A concentração de poderes nas mãos dos presidentes, aguda no Brasil desde o período militar e que apenas mudou seus métodos após a redemocratização, não pode ser considerada benéfica ao país sob qualquer ponto de vista. Assim, qualquer forma de abertura do processo decisório que inclua mais atores sociais pode ser vista como um avanço da democracia brasileira.

Por fim, merece destaque o tema ao redor do qual se optou por travar a batalha política da PEC 299/13: a reforma do Estado, assunto que retoma a reforma administrativa pela qual o país passou entre 1995 e 1999. Mesmo que limitado e incompleto, esse movimento lançou as bases da modernização do Estado que ocorre até hoje. Apesar de sua importância, a reforma dos anos 1990 ainda é desconhecida do grande público, tendo sido incorreta e maldosamente classificada pela esquerda como “neoliberal” em mais de uma disputa eleitoral. Hoje, diante da iniciativa de Eduardo Cunha, o governo petista se vê obrigado, pela primeira vez em 13 anos, a encarar a problemática da eficiência na gestão pública, assunto tradicionalmente dominado pelo PSDB. Enfim, mais um ponto positivo que surge da arenga entre PT e PMDB: está posto o desafio para que o governo Dilma funcione melhor com uma estrutura menor e mais econômica.

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