segunda-feira, 6 de abril de 2015

Lacerda: Muito além de 2016

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 02/04/2015 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e da edição 05/04/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A despeito do que manda a ansiedade típica do mundo político, o desenho de qualquer previsão para as eleições municipais de 2016 seria ainda muito prematuro. Após a derrota do PSDB em Minas, no ano passado, é fato que as disputas locais representam uma crucial chance de recuperação para o partido, com vistas a 2018. Porém, a consideração do que está em jogo não contribui em nada para que se preveja com maior precisão os acontecimentos futuros. Em Belo Horizonte, palco importante mas não decisivo da política mineira, são vários os postulantes de cada partido ao comando da capital mineira: PT e PSDB, por exemplo, têm cada um vários pré-candidatos, que não desmentem junto à imprensa os boatos que indicam o desejo de concorrer à prefeitura da capital.
Em meio a esse ambiente, chama a atenção a atuação política do atual prefeito, Márcio Lacerda.  Além de ter convocado recentemente uma reunião de seu partido, o PSB, Lacerda também promoveu encontro com vereadores da bancada evangélica, para tratar da polêmica sobre o corte dos subsídios municipais a eventos religiosos. Ambos acontecimentos marcam uma mudança significativa na postura do prefeito nos primeiros meses de 2015: tradicionalmente, Lacerda não apenas mantém distância dos eventos partidários, como também pouco se envolve no relacionamento com o Legislativo; agia assim mesmo quando era urgente uma boa relação com a Câmara dos Vereadores para a manutenção de seus planos prioritários de governo. Nunca antes o prefeito necessitou tão pouco se envolver pessoalmente com as articulações políticas do dia a dia, porém é exatamente a partir final de seu segundo mandato que Márcio Lacerda se torna mais político do que nunca.
Há quem diga que o atual prefeito da capital quer comandar seu processo sucessório, a ocorrer no próximo ano. A questão maior, entretanto, trata das motivações por detrás do cálculo político de Márcio Lacerda: por que, para alguém que rejeitou apelos para se candidatar ao comando do estado em 2014, eleger o sucessor na PBH passou a ser tão importante? O legado administrativo do prefeito é indiscutível e definitivo. Seria contraditório supor que Lacerda se envolveria tanto com a política apenas para preservar as conquistas de sua gestão, já que mesmo quando estava em jogo a realização de tais obras, seu envolvimento com os políticos era mínimo.

A hipótese mais provável, contrariando o que ficou evidente em 2014, é que Márcio Lacerda tem vivo interesse em prosseguir com uma carreira na política eleitoral. A eleição de um sucessor aliado em 2016 seria, assim, uma estratégia de continuidade da atual administração, mantendo vivo o nome de Lacerda junto à população. Devidamente cacifado, Márcio Lacerda poderia se tornar uma referência natural na disputa de 2018 pelo Palácio da Liberdade. Confirmando-se esse cenário, podemos esperar que o atual prefeito desempenhe cada vez mais o papel de protagonista no cenário político mineiro dos próximos anos, agora livre das amarras que o tolheram em 2014.

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