(publicado na edição de 12/04/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Com
a aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a serem realizadas
em 2016, começam as especulações sobre os pré-candidatos dos dois maiores
partidos desse país. Nesse sentido, a revista Time, semanário de maior
prestígio nos EUA, elaborou um curioso perfil de Hillary Clinton, esposa de
ex-presidente e uma das principais postulantes do Partido Democrata, atualmente
no poder. As semelhanças com o panorama do Brasil são surpreendentes.
Analisando
a trajetória de Bill Clinton, presidente entre 1993 e 2001, assim como de sua
esposa e senadora Hillary, a Time identificou uma tendência aparentemente
contraditória: quando confrontados com escândalos, denúncias e outros fatores
que normalmente causariam desgaste a qualquer outro político, o casal Clinton
surpreendentemente acaba ganhando popularidade, e saindo da crise mais forte do
que quando entrou. Os analistas da revista pouco entendem sobre esse processo,
mas arriscam dizer que o segredo do casal é apontar sempre para o futuro,
confrontando as críticas ao passado com comentários sobre perspectivas
positivas, contribuindo para construir esperança em um ambiente marcado pela
desconfiança. A fórmula, simples e intuitiva, funcionou nas diversas ocasiões
nas quais o marido Bill se viu pressionado: desde o escândalo imobiliário de
Whitewater, durante a campanha eleitoral de 1992, até a denúncia de assédio
sexual a uma estagiária, que levou a um processo de impeachment em 1999. Hoje, se
especula se Hillary conseguirá superar as acusações de ter usado seu e-mail
pessoal em questões de interesse estratégico do país, quando exerceu cargo de
secretária de Estado entre 2009 e 2013.
O
que surpreende aos norte-americanos é bastante comum aos brasileiros: enquanto
ocupava a Presidência, Lula usou dessa mesma técnica em várias ocasiões, com
igual sucesso. Passou incólume pela crise do mensalão, pelo episódio dos
“aloprados” que forjavam dossiês contra adversários do PT, além de outras
situações que repercutiram mais entre o público antipetista do que junto à
opinião pública brasileira em geral. Para tirar o foco de tais escândalos, Lula
mencionava repetidamente os bons resultados de sua administração; sob a lógica
do casal Clinton, o presidente brasileiro estava apenas buscando construir esperança
no eleitorado, levando-o a pensar que o futuro pode, e deve, repercutir os
sucessos do presente.
Essa
interessante perspectiva, entretanto, se esvaneceu do horizonte político do PT
em âmbito federal, estando fora do cardápio de opções à disposição da
presidente Dilma Rousseff. Não se trata apenas de uma questão de carisma
pessoal, qualidade que faz falta em Dilma e que tanto Bill Clinton quanto Lula
têm de sobra, mas sim do cenário socioeconômico sobre o qual a atual presidente
deveria projetar a esperança do público. Com a crise econômica começando a
gerar as primeiras ondas de demissões e inflação, o futuro passou a ser terreno
infértil para a semeadura política de Dilma; seu desgaste pessoal veio para
ficar.
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