domingo, 12 de abril de 2015

Ao estilo Clinton: a arte de sair de crises

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 12/04/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Com a aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a serem realizadas em 2016, começam as especulações sobre os pré-candidatos dos dois maiores partidos desse país. Nesse sentido, a revista Time, semanário de maior prestígio nos EUA, elaborou um curioso perfil de Hillary Clinton, esposa de ex-presidente e uma das principais postulantes do Partido Democrata, atualmente no poder. As semelhanças com o panorama do Brasil são surpreendentes.
Analisando a trajetória de Bill Clinton, presidente entre 1993 e 2001, assim como de sua esposa e senadora Hillary, a Time identificou uma tendência aparentemente contraditória: quando confrontados com escândalos, denúncias e outros fatores que normalmente causariam desgaste a qualquer outro político, o casal Clinton surpreendentemente acaba ganhando popularidade, e saindo da crise mais forte do que quando entrou. Os analistas da revista pouco entendem sobre esse processo, mas arriscam dizer que o segredo do casal é apontar sempre para o futuro, confrontando as críticas ao passado com comentários sobre perspectivas positivas, contribuindo para construir esperança em um ambiente marcado pela desconfiança. A fórmula, simples e intuitiva, funcionou nas diversas ocasiões nas quais o marido Bill se viu pressionado: desde o escândalo imobiliário de Whitewater, durante a campanha eleitoral de 1992, até a denúncia de assédio sexual a uma estagiária, que levou a um processo de impeachment em 1999. Hoje, se especula se Hillary conseguirá superar as acusações de ter usado seu e-mail pessoal em questões de interesse estratégico do país, quando exerceu cargo de secretária de Estado entre 2009 e 2013.
O que surpreende aos norte-americanos é bastante comum aos brasileiros: enquanto ocupava a Presidência, Lula usou dessa mesma técnica em várias ocasiões, com igual sucesso. Passou incólume pela crise do mensalão, pelo episódio dos “aloprados” que forjavam dossiês contra adversários do PT, além de outras situações que repercutiram mais entre o público antipetista do que junto à opinião pública brasileira em geral. Para tirar o foco de tais escândalos, Lula mencionava repetidamente os bons resultados de sua administração; sob a lógica do casal Clinton, o presidente brasileiro estava apenas buscando construir esperança no eleitorado, levando-o a pensar que o futuro pode, e deve, repercutir os sucessos do presente.

Essa interessante perspectiva, entretanto, se esvaneceu do horizonte político do PT em âmbito federal, estando fora do cardápio de opções à disposição da presidente Dilma Rousseff. Não se trata apenas de uma questão de carisma pessoal, qualidade que faz falta em Dilma e que tanto Bill Clinton quanto Lula têm de sobra, mas sim do cenário socioeconômico sobre o qual a atual presidente deveria projetar a esperança do público. Com a crise econômica começando a gerar as primeiras ondas de demissões e inflação, o futuro passou a ser terreno infértil para a semeadura política de Dilma; seu desgaste pessoal veio para ficar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário