(publicado na edição de 19/04/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
recente onda de antipatia popular contra o governo de Dilma Rousseff, aguda a
ponto de levar a maioria da população a apoiar pedidos de impeachment, já se constitui
como o maior acontecimento político de 2015. No mesmo sentido, apenas agora o
PT enfrenta uma oposição efetiva no Congresso, capaz de obriga-lo a rever seus
rumos e estratégias. O curioso da situação legislativa é que essa mudança se deve,
de fato, aos aliados do Governo Federal, e não a seus opositores históricos do
PSDB. Esse partido, por seu desempenho como antagonista, merece análise
destacada.
Quando
surgiram as primeiras ondas de insatisfação contra Dilma, semanas após o pleito
de outubro, a reação das lideranças petistas foi acusar o PSDB de buscar um
“terceiro turno” eleitoral. Esse discurso arrastou-se até meados de março, quando
os massivos protestos antigoverno mostraram que o movimento não tinha caráter
partidário. Até então, os articuladores petistas se deixaram enganar pela
ilusão de poder dos tucanos: a cada quatro anos, nas disputas nacionais, o
partido se mostra adversário difícil de ser batido pelo PT, levando sempre as
eleições ao segundo turno.
Diferente
do que parece, esse desempenho não deriva da força institucional do PSDB, mas
sim do caráter plebiscitário das eleições presidenciais: o desprezo popular
pelo Legislativo faz com que o foco do povo na política se resuma à escolha
entre duas personagens antagonistas. Por isso, não gostar de um candidato
implica em apoiar o outro, como forma de derrotar o desafeto. Dessa maneira, o
PSDB acumula votos, mas não apoio efetivo da população, já que polariza momentaneamente
a insatisfação com os governos do PT.
O
resultado desse descompasso é que, nos intervalos entre eleições, os tucanos
voltam a contar apenas com a força que deriva do real apoio que têm da sociedade:
limitam-se à atuação de lideranças isoladas, que apesar de obter certa
visibilidade, não constituem uma força parlamentar de destaque.
Recentemente,
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em valioso momento de autocrítica,
declarou que o PSDB precisa se abrir à sociedade. Como instituição pouco
aberta, o PSDB costuma ter seus trâmites internos cercados de mistério, o que
acaba por camuflar a existência de dissensões internas ao partido. Uma dessas,
por exemplo, tem antagonizado uma nova geração de lideranças a nomes mais
antigos, e ficou nítida na composição das alianças para a campanha de 2014: o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aliou-se formalmente ao PSB de Marina
Silva, dando espaço a uma concorrente direta do candidato de seu próprio
partido, Aécio Neves. Esse, por sua vez, mesmo representando a nova geração dos
tucanos, apenas obteve a indicação do partido ao se aliar à ala veterana,
encabeçada por FHC.
Cisões
desse tipo têm consequências eleitorais indiscutíveis, pois bloqueiam qualquer
movimento de reforma da estrutura partidária, o que deixa o partido à mercê do
desempenho isolado de lideranças avulsas e de conjunturas eleitorais de
momento.
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