terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Quem sempre paga a conta

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 01/02/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Diferente do que afirma o senso comum, o objeto de estudo da Economia não é o dinheiro, ou mesmo os mercados que ele movimenta: esse campo da ciência se dedica mesmo ao comportamento humano. O que as pessoas preferem, conseguem ou podem fazer com os recursos que têm no início do mês é uma questão de interesse não só de cada indivíduo, mas também dos governos, que se preocupam com os efeitos coletivos dessas escolhas pessoais. A ligação entre economia e sociedade, entretanto, vai além de explicar tais fenômenos coletivos: na verdade, para cada nova regra de governo, há um tipo de comportamento que é imposto à população e, consequentemente, novos caminhos para se fazer os recursos mudarem de mãos.
A nova equipe econômica do governo de Dilma Rousseff, nesse sentido, tem dado uma aula a respeito da relação que há entre a população e os governos em matéria econômica: define claramente quem faz as despesas e quem arca com os custos dessas. Entre os ganhadores e perdedores da nova política econômica, planejou-se que o Governo Federal levará a melhor parte: ao dificultar as regras de acesso ao seguro-desemprego, estima-se manter R$ 18 bilhões nos cofres públicos, o que contribuirá para reduzir o déficit primário das contas públicas. Pela primeira vez, desde o tucano ano de 1997, o Governo Federal gastou mais do que arrecadou, mesmo excluindo dessa conta o pagamento dos juros da dívida pública. Cobrir esse rombo seria uma prioridade se o fator principal que o gerou não fosse o inchaço da máquina pública com um grande número de servidores comissionados, além dos gastos excepcionais voltados para a promoção da combalida imagem de Dilma Rousseff no contexto das eleições de 2014. Mesmo infringindo a Lei de Responsabilidade Fiscal, essa fórmula deu certo, já que a pequena margem de votos que reelegeu Dilma partiu justamente das populações mais carentes, ou seja, justamente aquelas que indefinidamente dependem dos gastos públicos para a própria sobrevivência.
Sendo assim, no jogo da economia com a sociedade, o trabalhador que não tiver acesso ao seguro-desemprego vai estar diretamente pagando a conta da campanha da presidente Dilma Rousseff. Também o aumento dos impostos sobre produtos importados, que atingirá todos os brasileiros, tem o objetivo de recompor o caixa federal, que trabalhou descontroladamente em 2014 em favor do projeto de um partido. O reajuste dos preços de combustíveis, anunciado dias após a vitória de Dilma nas urnas, também teve seu componente político: grande importador de combustíveis devido à insuficiente capacidade de refino nacional, o Brasil manteve o preço da gasolina abaixo dos níveis internacionais durante todo o ano de 2014. Para evitar desgaste do governo, a Petrobras vendeu mais barato do que comprou por tempo demais.
Recuperar o tempo e os recursos perdidos custará a todos os brasileiros em 2015. Porém, enquanto não associarmos as causas e efeitos da política aos movimentos da economia, essa dinâmica vai continuar indefinidamente.

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