por Paulo Diniz
(publicado na edição de 01/02/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Diferente
do que afirma o senso comum, o objeto de estudo da Economia não é o dinheiro,
ou mesmo os mercados que ele movimenta: esse campo da ciência se dedica mesmo
ao comportamento humano. O que as pessoas preferem, conseguem ou podem fazer
com os recursos que têm no início do mês é uma questão de interesse não só de
cada indivíduo, mas também dos governos, que se preocupam com os efeitos
coletivos dessas escolhas pessoais. A ligação entre economia e sociedade, entretanto, vai além
de explicar tais fenômenos coletivos: na verdade, para cada nova regra de
governo, há um tipo de comportamento que é imposto à população e,
consequentemente, novos caminhos para se fazer os recursos mudarem de mãos.
A nova
equipe econômica do governo de Dilma Rousseff, nesse sentido, tem dado uma aula
a respeito da relação que há entre a população e os governos em matéria
econômica: define claramente quem faz as despesas e quem arca com os custos
dessas. Entre os ganhadores e perdedores da nova política econômica, planejou-se
que o Governo Federal levará a melhor parte: ao dificultar as regras de acesso
ao seguro-desemprego, estima-se manter R$ 18 bilhões nos cofres públicos, o que
contribuirá para reduzir o déficit primário das contas públicas. Pela primeira
vez, desde o tucano ano de 1997, o Governo Federal gastou mais do que
arrecadou, mesmo excluindo dessa conta o pagamento dos juros da dívida pública.
Cobrir esse rombo seria uma prioridade se o fator principal que o gerou não fosse
o inchaço da máquina pública com um grande número de servidores comissionados,
além dos gastos excepcionais voltados para a promoção da combalida imagem de
Dilma Rousseff no contexto das eleições de 2014. Mesmo infringindo a Lei de
Responsabilidade Fiscal, essa fórmula deu certo, já que a pequena margem de
votos que reelegeu Dilma partiu justamente das populações mais carentes, ou
seja, justamente aquelas que indefinidamente dependem dos gastos públicos para
a própria sobrevivência.
Sendo assim, no jogo da economia com a sociedade, o
trabalhador que não tiver acesso ao seguro-desemprego vai estar diretamente
pagando a conta da campanha da presidente Dilma Rousseff. Também o aumento dos
impostos sobre produtos importados, que atingirá todos os brasileiros, tem o
objetivo de recompor o caixa federal, que trabalhou descontroladamente em 2014
em favor do projeto de um partido. O reajuste dos preços de combustíveis,
anunciado dias após a vitória de Dilma nas urnas, também teve seu componente
político: grande importador de combustíveis devido à insuficiente capacidade de
refino nacional, o Brasil manteve o preço da gasolina abaixo dos níveis
internacionais durante todo o ano de 2014. Para evitar desgaste do governo, a
Petrobras vendeu mais barato do que comprou por tempo demais.
Recuperar o tempo e os recursos perdidos custará a
todos os brasileiros em 2015. Porém, enquanto não associarmos as causas e
efeitos da política aos movimentos da economia, essa dinâmica vai continuar
indefinidamente.
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