por Paulo Diniz
(publicado na edição de 04/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Agitado
como poucos, o ano de 2014 se encerra com um acontecimento surpreendente no cenário
internacional: o anúncio do reatamento das relações diplomáticas entre EUA e
Cuba. Sendo essa uma das bandeiras da política externa de Barack Obama desde
sua campanha presidencial de 2008, a aproximação entre os países é mesmo
merecedora do destaque que vem recebendo da imprensa mundial. Entretanto, pouco
se diz sobre as perspectivas dessa relação que promete, a partir de 2015,
retomar a grande intensidade que tinha antes da implantação do regime dos
irmãos Castro em Cuba.
Fato
que inaugura a trajetória intervencionista dos EUA pelo mundo, a Guerra
Hispano-Americana ocorreu em 1898 e foi responsável pela libertação de Cuba do
domínio colonial espanhol. Seguiram-se seis décadas de participação direta dos
norte-americanos no cenário político cubano: o mar do Caribe se colocava como
área de interesse direto da ascendente potência. A implantação do comunismo,
nos primeiros anos da década de 1960, representou grande alívio aos cubanos, já
que o contexto da Guerra Fria naturalmente afastava seu país da órbita dos EUA.
A sombra norte-americana, entretanto, permaneceu sobre Cuba: mais de um milhão
de cubanos fugiu para os EUA em busca de liberdade política e melhores
condições econômicas.
Evitando
a lógica simplista segundo a qual a história tende a se repetir em ciclos, é
preciso considerar que os eventos recentes da relação entre EUA e Cuba guardam
semelhanças marcantes com o movimento que, no início da década de 1990, levou à
queda do comunismo na Europa. Em ambos os momentos, a ineficiência produtiva do
sistema de economia planejada pelo Estado funcionou como o maior fator de
pressão sobre os governos de esquerda: tanto na Europa como em Cuba, há limites
sobre a carestia que se consegue impor sobre a população, ao mesmo tempo em que
os governos não conseguem inventar novas formas de geração de riqueza. A adoção
de pequenas medidas de liberalização econômica vem sendo implantada em Cuba nos
últimos anos, como forma de aliviar as condições de vida da população; já na
União Soviética, essas tiveram seu maior símbolo na inauguração da primeira
lanchonete da rede norte-americana Mc Donald’s em Moscou, que antecedeu em poucos
meses a própria queda do comunismo.
Outra
coincidência reside na intermediação do Papa Francisco, primeiro passo da nova
relação entre EUA e Cuba: ao final da década de 1970, foi também um Papa o ator
decisivo no início da derrocada do comunismo na Polônia, já que João Paulo II
incentivou seus compatriotas a não terem medo na sua luta pela liberdade
sindical.
Independente
das profundas questões ideológicas envolvidas, o fato é que nenhum povo escolhe
viver na pobreza e opressão política, produtos clássicos das ditaduras de
esquerda. Sempre que concedida algum grau, a liberdade é utilizada pela
população como instrumento na busca de mais liberdade. Essa dinâmica ganhará cada
vez mais força em Cuba, à medida que se sentir a influência dos EUA no país.
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