por Paulo Diniz
(publicado na edição de 11/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Há
dois anos, o deputado federal Júlio Delgado se encontrava no centro da disputa
pela Presidência da Câmara dos Deputados: aproximando oposição e os
insatisfeitos da ala governista, sua plataforma de candidatura parecia indicar
o surgimento de uma nova força na política nacional, gerando expectativas para
o que viria em 2014. Hoje Delgado está na mesma posição, porém o contexto à sua
volta se alterou a ponto de emprestar significado diverso à sua atual candidatura.
Compreender essas mudanças significa não apenas realizar retrospectiva da política
brasileira nos últimos anos, como também revisar o sistema político nacional.
No
início de 2013, Julio Delgado despontava como elemento de ligação entre a
oposição tucana e a liderança ascendente de Eduardo Campos, o presidente do PSB
que então afastava cada vez mais seu partido da órbita petista. Havia, assim,
muita expectativa em relação à votação que Delgado atrairia na Câmara, e também
no que tocava ao cenário presidencial de 2014, quando o apoio do PSB poderia
gerar respaldo político renovado ao PSDB. Nos bastidores da campanha de
Delgado, Aécio Neves e Eduardo Campos torciam pelo sucesso desse primeiro
experimento de aproximação entre seus projetos políticos, que pareciam
convergir para uma chapa conjunta para a disputa pela Presidência da República
no ano seguinte. A polarização da eleição da Câmara contra o governista
Henrique Eduardo Alves, do PMDB, assim como o momento político tranquilo pelo
qual passava o Brasil, inviabilizaram a vitória da plataforma de Julio Delgado;
porém, a votação obtida foi encorajadora.
Desde
então, tudo mudou: protestos populares, estagnação econômica, Copa do Mundo,
empate técnico no segundo turno presidencial de 2014 e o escândalo da Petrobras
foram alguns fatores que causaram grande abalo na sustentação política de Dilma
Rousseff. Já no PSB, a filiação surpreendente de Marina Silva, o rompimento
formal com o PT, o falecimento de Eduardo Campos e ascensão e queda
vertiginosas da candidata do partido na campanha do ano passado colocaram o PSB
como protagonista nacional. O candidato Julio Delgado, nesse sentido, passa de
teste de viabilidade em 2013 ao posto de representante de uma corrente política
em crescimento em 2015.
Outra
diferença entre os cenários de 2013 e 2015 é o quadro das demais candidaturas à
presidência da Câmara: diferente da unidade do passado, hoje há duas lideranças
dividindo a base governista, Arlindo Chinaglia pelo PT e, pelo PMDB, um tradicional
desafeto de Dilma, Eduardo Cunha. Essa rivalidade no campo do governo representa
oportunidade para Julio Delgado, que deixa de ser alvo preferencial dos outros principais
candidatos.
O
descontentamento do PMDB diante das nomeações ministeriais de Dilma promete um
ano delicado para o governo, que já demandava apoio legislativo como nunca,
fragilizado que está pelas investigações na Petrobras. Nesse complexo momento
político, é difícil achar alguém em posição mais estratégica que o juiz-forano
Julio Delgado.
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