por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O ano de
2015 se inicia sob o signo do terrorismo internacional, confirmando a tendência
atual de expansão desse tipo de conflito. Não apenas persiste o grupo armado
Estado Islâmico a ganhar corpo e ocupar territórios do Iraque e da Síria, como
também os atentados de Paris trouxeram à tona uma série de temas importantes,
como a liberdade de expressão e o comportamento dos grupos extremistas
compostos por nativos da própria Europa. É preciso perceber, entretanto, que
apesar do custo humano derivado de tal atividade militante, quando se considera
a perspectiva política e o longo prazo, o terrorismo não representa uma ameaça
concreta aos governos estabelecidos.
Tomando
por base o Oriente Médio, foco de tensões que deu origem a diversos conflitos
armados, temos como exemplo a luta do povo palestino pela criação de seu
próprio Estado. Até o final da década de 1960, eram bem simples as ações
militares não convencionais dos nacionalistas palestinos contra Israel:
emboscadas de pequenas proporções, sobretudo contra o aparato de segurança do
Estado Judeu nos territórios por esse ocupados. Quando tais agressões passaram
a ser realizadas internacionalmente, as lideranças palestinas perceberam o
potencial político e propagandístico que haviam despertado: todo o planeta
passou a conhecer a causa pela qual lutavam, graças à massiva cobertura da
imprensa, de forma que também angariaram novos aliados e apoios a partir da
notoriedade obtida. A Europa, na década de 1970, viveu um autêntico jogo de
gato e rato, no qual agentes de Israel buscavam secretamente evitar ataques
terroristas e neutralizar seus autores, enquanto militantes extremistas palestinos
ousavam cada vez mais, contando com a simpatia de boa parte do público e dos
governos europeus. O resultado obtido, entretanto, foi politicamente nulo: a
violência passou do ponto em que podia ser considerada justificável pela
opinião pública, sendo vista então apenas como radicalismo estéril.
Como
contraponto, vale mencionar o quadro atual, que mesmo ofuscado pelos eventos de
Paris ilustra bem os limites da violência no jogo político: nos primeiros dias
de 2015, a Autoridade Nacional Palestina solicitou adesão ao Tribunal Penal
Internacional, órgão ligado à ONU e dedicado principalmente a julgar crimes
contra a humanidade. Mesmo antes de receber aval positivo da ONU a seu pedido,
já que ainda não compõe um Estado propriamente dito, a ANP sofreu sanções
financeiras de Israel e duras críticas dos EUA, o que indica que os palestinos
conseguiram atingir a essas duas potências militares. De fato, uma eventual
denúncia da ANP contra ações militares israelenses nos territórios palestinos
geraria grande desgaste político a Israel diante do mundo, mesmo que esse país
não componha o Tribunal.
Quando
ações políticas bem calculadas geram resultados mais eficientes que o
terrorismo, é possível pensar que essa categoria de ação tem seus dias
contados: no longo prazo, as letras se mostram instrumentos mais eficientes do
que a espada.
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