segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Terrorismo como ferramenta política

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O ano de 2015 se inicia sob o signo do terrorismo internacional, confirmando a tendência atual de expansão desse tipo de conflito. Não apenas persiste o grupo armado Estado Islâmico a ganhar corpo e ocupar territórios do Iraque e da Síria, como também os atentados de Paris trouxeram à tona uma série de temas importantes, como a liberdade de expressão e o comportamento dos grupos extremistas compostos por nativos da própria Europa. É preciso perceber, entretanto, que apesar do custo humano derivado de tal atividade militante, quando se considera a perspectiva política e o longo prazo, o terrorismo não representa uma ameaça concreta aos governos estabelecidos.
Tomando por base o Oriente Médio, foco de tensões que deu origem a diversos conflitos armados, temos como exemplo a luta do povo palestino pela criação de seu próprio Estado. Até o final da década de 1960, eram bem simples as ações militares não convencionais dos nacionalistas palestinos contra Israel: emboscadas de pequenas proporções, sobretudo contra o aparato de segurança do Estado Judeu nos territórios por esse ocupados. Quando tais agressões passaram a ser realizadas internacionalmente, as lideranças palestinas perceberam o potencial político e propagandístico que haviam despertado: todo o planeta passou a conhecer a causa pela qual lutavam, graças à massiva cobertura da imprensa, de forma que também angariaram novos aliados e apoios a partir da notoriedade obtida. A Europa, na década de 1970, viveu um autêntico jogo de gato e rato, no qual agentes de Israel buscavam secretamente evitar ataques terroristas e neutralizar seus autores, enquanto militantes extremistas palestinos ousavam cada vez mais, contando com a simpatia de boa parte do público e dos governos europeus. O resultado obtido, entretanto, foi politicamente nulo: a violência passou do ponto em que podia ser considerada justificável pela opinião pública, sendo vista então apenas como radicalismo estéril.
Como contraponto, vale mencionar o quadro atual, que mesmo ofuscado pelos eventos de Paris ilustra bem os limites da violência no jogo político: nos primeiros dias de 2015, a Autoridade Nacional Palestina solicitou adesão ao Tribunal Penal Internacional, órgão ligado à ONU e dedicado principalmente a julgar crimes contra a humanidade. Mesmo antes de receber aval positivo da ONU a seu pedido, já que ainda não compõe um Estado propriamente dito, a ANP sofreu sanções financeiras de Israel e duras críticas dos EUA, o que indica que os palestinos conseguiram atingir a essas duas potências militares. De fato, uma eventual denúncia da ANP contra ações militares israelenses nos territórios palestinos geraria grande desgaste político a Israel diante do mundo, mesmo que esse país não componha o Tribunal.
Quando ações políticas bem calculadas geram resultados mais eficientes que o terrorismo, é possível pensar que essa categoria de ação tem seus dias contados: no longo prazo, as letras se mostram instrumentos mais eficientes do que a espada.

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