por Paulo Diniz
(publicado na edição de 09/09/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e na edição de 12/09/2014 do Bocaiúva em Notícias)
Tal
como jogadores de futebol, os candidatos a cargos de eleição majoritária
costumam ter pouca criatividade ao responder sobre determinados temas: quando
se trata de pesquisas eleitorais, os políticos brasileiros invariavelmente
dizem que essas são mero retrato do momento, não significando nada definitivo.
Porém, considerando o último conjunto de pesquisas, os três principais
candidatos à Presidência da República dificilmente serão sinceros se proferirem
esse tradicional bordão. O fato principal é o vertiginoso crescimento de Marina
Silva, que passou a disputar a liderança na preferência do eleitorado em pouco
menos de um mês de campanha; trata-se de fenômeno que merece um olhar atento.
A
primeira fonte de votos na qual se apoiou Marina está relacionada com Aécio
Neves, cujo crescimento ocorria pela lenta conquista do tradicional eleitorado
anti-petista. O tucano não só foi contido nesse movimento, como também sofreu considerável
revés, o que pode indicar que Marina esteja caindo nas graças desse robusto
contingente eleitoral; na história brasileira recente, cerca de 40% do público
votante repudia por definição o Partido dos Trabalhadores, emprestando seu
apoio ao postulante que melhor rivaliza com o candidato petista da ocasião.
Esses eleitores, comumente confundidos com apoiadores do PSDB, foram os maiores
responsáveis pelo desempenho dos candidatos presidenciais tucanos nas três
últimas campanhas: ambos eram figuras de alcance estadual e pouco carisma, que
enfrentaram o PT no auge de sua popularidade e, mesmo assim, só foram batidos
em segundo turno. Esse grande trunfo, assim, parece se esvair do alcance de
Aécio Neves, relegando-o a uma incômoda terceira posição das estimativas da
preferência eleitoral.
Marina
também logrou obter apoio popular a partir de um fenômeno singular no panorama
eleitoral brasileiro: ao longo do mês de agosto, reduziu pela metade o
percentual de eleitores que planejavam votar em branco ou nulo na disputa de
outubro. O fato de que muitos desses, intrinsecamente desencantados com a
política brasileira, voltem a manifestar interesse pelo processo eleitoral
significa que Marina consegue obter votos que são inatingíveis para seus
oponentes. A importância desse fato é tamanha, que pode indicar o surgimento de
uma conexão direta entre as manifestações de rua de 2013 e o contexto eleitoral
atual.
Marina
conta também com o expediente de buscar votos junto aos eleitores de Aécio e
Dilma, uma opção desgastante, porém que mostra resultados nítidos, pois os
postulantes do PSDB e do PT perderam eleitores à medida que cresceu o apoio
popular à candidata do PSB. O recente discurso da ex-senadora, propondo unir
pontos positivos das gestões de FHC e de Lula, é prova de que ela pretende
intensificar o uso dessa estratégia, atingindo a seus dois adversários de uma
só vez. Por fim, é bom lembrar que os baixos índices de rejeição de Marina
sinalizam caminhos desimpedidos em quase todas as direções, tornando-a uma
postulante difícil de ser batida.
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