por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/07/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Os
massivos protestos contra a Copa do Mundo, que assustavam seus organizadores,
não se concretizaram. Porém, a violência tem sido a marca maior das manifestações
que acompanham o torneio. As diferenças entre os protestos do ano passado e os
atuais são gritantes: esses reúnem poucas centenas de pessoas, além de apelarem
à violência com mais rapidez e intensidade. Merecem atenção, no contexto atual,
as organizações radicais que promovem a violência como forma de ação,
protagonistas principais dos eventos de 2014.
Os
grupos que realizam protestos violentos, à luz da teoria democrática, padecem
do mesmo problema que as instituições formais do sistema político brasileiro:
baixa representatividade. Esse fenômeno é caracterizado pela tênue conexão
entre uma organização política e o público geral. Como não há identidade
significativa entre povo e instituição política, os discursos, propostas e
ações dessa caem no vazio, representando interesses apenas das lideranças que os
propuseram. O sistema democrático
institucionalizado no Brasil busca contornar essa questão através das urnas:
mesmo não acompanhando o cotidiano dos partidos políticos, o cidadão é obrigado
a formalizar seu apoio a um desses, a cada dois anos, ao conferir-lhe seu voto.
Essa ligação entre governantes e governados, mínima, é discutida com
intensidade no campo de estudos da Ciência Política, uma vez que não se sabe se
essa seria suficiente para prover sustentação a governos e parlamentos.
O
que dizer, nesse sentido, a respeito de grupos que sequer divulgam seus nomes,
e cujas plataformas de ação se resumem à violência estéril contra qualquer
símbolo de poder? Difícil pensar que tais instituições gozem de
representatividade, pois a própria configuração clandestina que adotam
impossibilita a simpatia popular para com eles.
É
certo afirmar que os grupos radicais violentos, sem perspectivas de obtenção de
legitimidade pela via da representação popular, não deverão concretizar plataforma
política significativa. Entretanto, não se pode negar que tais organizações se
encontram em plena atividade nas ruas. Por isso, é preciso analisa-las a partir
de uma perspectiva ampla: não buscando uma agenda política nos movimentos radicais,
mas tentando identificar em quais agendas políticas esses grupos podem estar
encaixados, produzindo fatos políticos que beneficiem a atores estabelecidos.
A
variedade dos alvos políticos escolhidos pelos radicais não permite qualquer
dedução imediata: os ataques ao Governo Federal são acompanhados, com
frequência, de investidas contra as polícias estaduais. Porém, o potencial de
dano eleitoral contido nas ações dos radicais é significativo, de forma que não
se pode descartar que haja intencionalidade política nos atuais protestos. Por
enquanto, persistem como especulações as hipóteses de que atores políticos
isolados financiem e coordenem tais movimentos radicais. De toda forma, esse
novo dado da equação política brasileira deve, de agora em diante, ser sempre
levado em conta.
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