segunda-feira, 21 de julho de 2014

Efeitos colaterais

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 16/07/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O fim do prazo para realização de convenções partidárias trouxe novidades no PSB. O lançamento da candidatura de Tarcísio Delgado à disputa pelo Palácio da Liberdade foi uma surpresa, pois as opções debatidas no partido eram a adesão à chapa do tucano Pimenta da Veiga ou o lançamento de candidatura própria, cujos postulantes eram Apolo Heringer ou Júlio Delgado, presidente estadual da legenda. Prova de habilidade política, a articulação que prevaleceu atingiu em cheio a disputa entre PSDB e PT.
O lançamento da candidatura própria do PSB ao governo do estado era tema polêmico nos debates internos: apesar das principais lideranças do partido defenderem a adesão à chapa tucana, duas significativas forças internas pressionavam pelo lançamento de um nome próprio. Por um lado, a direção nacional do partido desejava que Eduardo Campos, postulante à Presidência pelo PSB, pudesse contar com um companheiro de chapa em Minas. Por outro lado, os militantes da Rede Sustentabilidade, agregados ao partido, vinham se mostrando relutantes a um alinhamento ao PSDB, pois a proposta principal desse movimento era a de constituir alternativa no cenário polarizado da política nacional.
O lançamento da candidatura ao governo do estado do ex-prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio Delgado, respondeu a todas essas demandas. O PSB nacional poderá contar com a estrutura da campanha de Tarcísio para buscar votos para Campos em Minas. Ao mesmo tempo, a nova candidatura sinaliza independência do partido, o que tende a agradar os militantes da Rede, que compõem boa parte dos quadros do PSB.
Interessante notar a primeira declaração de Tarcísio Delgado ao anunciar sua candidatura, marcando discordâncias em relação ao PSDB. O que parece prejudicar o candidato tucano, na verdade o beneficia: a fração do eleitorado suscetível ao apelo das críticas às gestões tucanas certamente já se encontrava propensa a votar no petista Fernando Pimentel; Delgado deve tomar desse, e não de Pimenta da Veiga, a maior parte dos votos que terá.
O PSB produziu outra notícia ruim para a campanha petista quando o prefeito de Belo Horizonte anunciou, contra a diretriz de seu partido, que irá apoiar o candidato tucano ao Governo do Estado. Mais do que os votos que Márcio Lacerda pode transferir a Pimenta da Veiga, interessa perceber que Fernando Pimentel passará enfrentar concorrência mais forte na Capital e Região Metropolitana, exatamente onde possui maior patrimônio eleitoral devido ao período em que governou Belo Horizonte. Se o principal desafio do candidato petista era se tornar conhecido no interior mineiro, agora terá que lutar para manter sua base eleitoral.
As demais deserções ocorridas no início da campanha do PSB, como a do ex-ministro Walfrido Mares Guia e do dirigente esportivo Alexandre Kalil, não alteram o quadro geral: a candidatura de Tarcísio Delgado gerou vulnerabilidades na campanha de Pimentel, algo que pode não ser visto nas pesquisas eleitorais em curto prazo, mas que se fará presente nas urnas.

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