por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/07/2012 do Hoje em Dia - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Durante a
Guerra Fria (1947-1991), Estados Unidos e União Soviética tinham nas armas
nucleares a principal peça de suas políticas exteriores. O jogo político
internacional tinha como principal objetivo evitar que a rivalidade entre as duas
superpotências levasse ao conflito nuclear apocalíptico. Contrariar os
interesses norte-americanos ou soviéticos colocava em risco esse frágil
equilíbrio de forças, de forma que o poder – sobretudo militar – ditava o ritmo
da política no mundo.
Duas décadas
após o fim da Guerra Fria, o contexto internacional se tornou muito mais
complexo, com governos, empresas e sociedades defendendo interesses e se
influenciando mutuamente em tempo real. A chamada “Primavera Árabe” aparece
como um bom exemplo: por meio de redes sociais, surgiram poderosas manifestações
populares que derrubaram os regimes da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen. A partir
de janeiro de 2011, sólidas máquinas políticas e partidárias, sustentadas em
aparatos policiais de repressão, ruíram diante da comunicação e mobilização
populares. Em poucas semanas se formaram novas alianças (nacionais e
internacionais), cresceu a oposição política e – não sem violência – novos
governos foram levados ao poder para realizar as reformas desejadas pela
população.
A crise que
abala a Síria, entretanto, é exceção nesse contexto. Rússia e China – destaque
para a primeira – deixaram claro o apoio ao regime sírio, no poder desde 1971,
opondo-se a qualquer apoio militar ocidental ao levante popular nesse país. A
curta guerra civil líbia de 2011, por exemplo, só foi decidida em favor dos
rebeldes devido à participação das forças aéreas da OTAN, aliança militar
liderada pelos EUA.
A substituição
de ditaduras por democracias liberais no Oriente Médio é um cenário que, se
concretizado, tende a fortalecer a influência norte-americana. A Rússia, pouco
democrática e liberal, incomoda-se diante da formação dos novos governos árabes,
menos suscetíveis ao exemplo russo. O maior país do mundo coloca, assim, seu
poder no debate político, revivendo a polarização da Guerra Fria, e sustentando
Bashar al-Assad no comando da Síria. Cada vez mais parecida com a União
Soviética, a Rússia mantém hoje uma queda de braço com os EUA, que prolonga o
impasse político, a violência e o sofrimento do povo sírio.
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