quinta-feira, 7 de junho de 2012

Efeitos da ação de Lula

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 07/06/2012 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 09/06/2012 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 24/07/2012 do Bocaiúva em Notícias - Bocaiúva, Minas Gerais)

As comissões parlamentares de inquérito brasileiras têm sido marcadas por uma seqüência de acontecimentos previsíveis: após início cercado de expectativas, o ânimo investigativo se dissipa, até que surge um informante que novamente atiça a esperança geral de que sejam encontrados os culpados da vez. Desde a CPI que levou à renúncia de Collor de Mello, vinte anos atrás, tais informantes-chave vem sendo chamados “homens bomba” no meio político, pela capacidade que possuem de mandar pelos ares qualquer possibilidade de acordo que submeta as investigações ás conveniências políticas.
A grande dúvida a respeito da CPMI que investiga o bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira vinha sendo a respeito da identidade do “homem-bomba” da vez. À medida que grandes nomes da política foram afastados do rol de suspeitos, essa dúvida se transformou em um misto de angústia e esperança. Certo de que poderá retomar seus negócios futuramente, Cachoeira se manteve calado em seu depoimento, preservando seus esquemas e parceiros no anonimato.
Entretanto, dessa vez o inesperado foi completo: o elemento detonador da polêmica foi o ex-presidente Lula, que supostamente usou informações da CPMI para pressionar Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, em relação ao julgamento do resultado de outra CPI, a do mensalão. A tibieza da resposta dada pela assessoria de imprensa de Lula, somada à quase imperceptível defesa do ex-presidente por seus aliados, empresta grande credibilidade à versão apresentada por Mendes.
O episódio, por si só, já reduz em muito a estatura de Lula perante a história. Porém, a conseqüência mais importante veio da vinculação entre contextos políticos diferentes feita por Lula: pediu o adiamento do julgamento do mensalão para depois das eleições municipais, tendo por argumento um suposto envolvimento de Gilmar Mendes com Cachoeira; desmentido, Lula vai à TV, e além de apresentar seu candidato à prefeitura de São Paulo, fala da possibilidade concreta de se candidatar à Presidência da República em 2014. Estão aí, amarradas em um só nó, duas CPIs e duas eleições.
Não só pelo conteúdo de suas declarações, mas principalmente pelos métodos utilizados para expressá-las, Lula teve o condão de acirrar instantaneamente os ânimos de todos. À oposição, não caberá se manter no embate morno dos últimos anos, sob pena de desaparecer de vez aos olhos do eleitor como projeto alternativo de governo. Para o presidenciável Aécio Neves, foi dado o sinal de que conciliação tem limites, e mais importante, que não se chega à Presidência da República por aclamação. Os aliados do governo, que responderam com enfático silêncio, agora têm de lidar com a volta de Lula (em campanha, ou no poder), e com a conseqüente reorganização da coalizão governista tão duramente construída.
Como “homem-bomba” que foi, Lula deslocou a “CPMI do Cachoeira” para um novo contexto, quando essa ainda dá seus primeiros passos. Um grande feito, considerando que Lula sequer depôs diante da Comissão, e sempre afirmava que ex-presidentes não deveriam se envolver mais com a política.

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