(publicado na edição de 27/03/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
O estado de saúde do
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tem sido motivo de recentes dúvidas,
apreensões e especulações da opinião pública nacional, especialmente após seu
recente período de internação, devido a uma pneumonia. À parte da dimensão
humana, na qual o país acompanha a luta de uma figura pública contra grave
enfermidade, as conseqüências políticas da condição de Lula devem ser
consideradas de forma direta, especialmente porque o ex-presidente segue como
uma das mais influentes lideranças políticas do país.
Diferente da
crença de seu antecessor, Lula nunca atribuiu à posição de ex-presidente o
papel de figura pública suprapartidária, um “conselheiro geral” da sociedade.
Pelo contrário, a interrupção da atividade política de Lula após o término de
seu mandato não configurou mais do que um período de férias estendido: já em
2011 o ex-presidente se dedicava a articulações para as eleições municipais do
ano seguinte e, principalmente, cuidava do gerenciamento da base de apoio da
presidente Dilma Rousseff. Havia, inclusive, incipiente debate a respeito da
real extensão do poder da nova chefe do Executivo Federal.
É importante
considerar, na atual conjuntura, que o tratamento pelo qual passa Lula é longo,
delicado e debilitante. Ignorar tais fatos significa desconsiderar os limites
do corpo humano. Quando Lula se afastar das articulações políticas para
dedicar-se completamente à própria saúde, irá deixar um espaço vazio de
consideráveis proporções na política brasileira.
O ex-Ministro
da Educação, Fernando Haddad, pode ser o mais afetado pela convalescença de
Lula, pois não poderá contar com o valioso carisma do ex-presidente em sua
campanha para a Prefeitura de São Paulo em outubro. Fica mais
fácil, assim, o caminho para que a oposição reassuma firme controle sobre esse
importante colégio eleitoral, crucial para a eleição presidencial de 2014.
Também a presidente Dilma Rousseff deve sofrer seu quinhão, pois não terá ajuda
de Lula – ao menos por alguns meses – para a desgastante tarefa de pacificar os
partidos de sua base aliada. De legendas como o PR e o PDT, até o parceiro-mór
PMDB, é amplo o descontentamento no interior do bloco governista, o que produz
turbulências capazes de afetar o funcionamento dos principais programas da
administração de Dilma, como o PAC e os preparativos para a Copa do Mundo de
2014.
Diante deste
quadro desfavorável, fica aberta a possibilidade de que a oposição estabeleça
em 2012 uma miríade de parcerias “hetedorodoxas”, construindo alianças com
partidos da base governista em várias cidades. Sem unidade no governo, os
aliados insatisfeitos de hoje podem se tornar os opositores declarados do
futuro.
As eleições de
2012 estão sendo consideradas – sobretudo por seus protagonistas – como o
primeiro ato da disputa nacional de 2014. Nesse momento crucial, se o partido
do governo não puder contar com a atuação plena de seu maior articulador, então
faz-se urgente o desenvolvimento de um plano de ação alternativo. Ocorre que,
por enquanto, ainda não há qualquer indicativo nesse sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário