sábado, 24 de março de 2012

O efeito-Lula e o futuro político do governo

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 27/03/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

O estado de saúde do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tem sido motivo de recentes dúvidas, apreensões e especulações da opinião pública nacional, especialmente após seu recente período de internação, devido a uma pneumonia. À parte da dimensão humana, na qual o país acompanha a luta de uma figura pública contra grave enfermidade, as conseqüências políticas da condição de Lula devem ser consideradas de forma direta, especialmente porque o ex-presidente segue como uma das mais influentes lideranças políticas do país.
Diferente da crença de seu antecessor, Lula nunca atribuiu à posição de ex-presidente o papel de figura pública suprapartidária, um “conselheiro geral” da sociedade. Pelo contrário, a interrupção da atividade política de Lula após o término de seu mandato não configurou mais do que um período de férias estendido: já em 2011 o ex-presidente se dedicava a articulações para as eleições municipais do ano seguinte e, principalmente, cuidava do gerenciamento da base de apoio da presidente Dilma Rousseff. Havia, inclusive, incipiente debate a respeito da real extensão do poder da nova chefe do Executivo Federal.
É importante considerar, na atual conjuntura, que o tratamento pelo qual passa Lula é longo, delicado e debilitante. Ignorar tais fatos significa desconsiderar os limites do corpo humano. Quando Lula se afastar das articulações políticas para dedicar-se completamente à própria saúde, irá deixar um espaço vazio de consideráveis proporções na política brasileira.
O ex-Ministro da Educação, Fernando Haddad, pode ser o mais afetado pela convalescença de Lula, pois não poderá contar com o valioso carisma do ex-presidente em sua campanha para a Prefeitura de São Paulo em outubro. Fica mais fácil, assim, o caminho para que a oposição reassuma firme controle sobre esse importante colégio eleitoral, crucial para a eleição presidencial de 2014. Também a presidente Dilma Rousseff deve sofrer seu quinhão, pois não terá ajuda de Lula – ao menos por alguns meses – para a desgastante tarefa de pacificar os partidos de sua base aliada. De legendas como o PR e o PDT, até o parceiro-mór PMDB, é amplo o descontentamento no interior do bloco governista, o que produz turbulências capazes de afetar o funcionamento dos principais programas da administração de Dilma, como o PAC e os preparativos para a Copa do Mundo de 2014.
Diante deste quadro desfavorável, fica aberta a possibilidade de que a oposição estabeleça em 2012 uma miríade de parcerias “hetedorodoxas”, construindo alianças com partidos da base governista em várias cidades. Sem unidade no governo, os aliados insatisfeitos de hoje podem se tornar os opositores declarados do futuro.
As eleições de 2012 estão sendo consideradas – sobretudo por seus protagonistas – como o primeiro ato da disputa nacional de 2014. Nesse momento crucial, se o partido do governo não puder contar com a atuação plena de seu maior articulador, então faz-se urgente o desenvolvimento de um plano de ação alternativo. Ocorre que, por enquanto, ainda não há qualquer indicativo nesse sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário