por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/08/2017 de O Tempo - Belo horizonte, Minas Gerais)
Algumas
semanas atrás, o senador Renan Calheiros protagonizou um insólito rompimento
com Michel Temer, proferindo um discurso capaz de agradar até o mais radical
dos petistas. O movimento estava relacionado com uma questão local: em Alagoas,
Calheiros quer preservar a aliança entre PMDB e PT para facilitar a reeleição
de seu filho, que hoje comanda o estado. Mais vale garantir um governador
aliado do que sacrificar sua popularidade apoiando o presidente mais detestado
das últimas três décadas. Em Minas Gerais a situação é semelhante: PMDB ainda
apoia o governo estadual petista, mantendo uma aliança que será indispensável
para que Fernando Pimentel possa cogitar a disputa pela reeleição de maneira
competitiva. Pouco representativo no governo federal, o PMDB mineiro tem mais
motivos para se concentrar no caminho que escolher para o pleito estadual do
que para empregar suas forças na disputa pela Presidência da República.
Partindo
desses casos mais evidentes, é possível discutir a hipótese de que as eleições de
2018 podem transcorrer predominantemente guiadas por uma miríade de forças
estaduais, e muito menos pelas grandes dinâmicas da política nacional
brasileira. Essa possibilidade representa uma inversão da forma como
aconteceram os últimos pleitos nacionais, nos quais a disputa pelo comando do
país exerceu uma influência decisiva sobre as eleições para os cargos de
governadores e senadores, principalmente.
Podemos
considerar, como base dessa estrutura, a situação atual do governo Temer:
unanimemente impopular, colhendo resultados econômicos tímidos e lentos, dotado
de orçamento deficitário e agindo há meses para garantir a própria
sobrevivência; é seguro afirmar que existe hoje um vazio de poder político em
Brasília. É evidente o contraste com as campanhas de 2002 e 2010, por exemplo,
nas quais havia lideranças claras na Presidência, em torno das quais se
aglutinavam grupos favoráveis e contrários. Tais centros de poder, ainda mais
fortes quando há reeleição em jogo, dominam a atenção da opinião pública e dos
meios de comunicação, o que obriga candidatos a governador a adotarem um
posicionamento nítido diante do eleitorado.
A
ausência de força política no Governo Federal, sob uma perspectiva histórica,
tem paralelo na redemocratização da década de 1980: as primeiras eleições
diretas para governadores se deram em 1982, levando ao poder nos estados
lideranças populares como Leonel Brizola e Tancredo Neves. Enquanto isso,
permaneceria na Presidência até 1985 o desgastado general Figueiredo,
remanescente do regime militar. O restante dessa década pode ser lido, na
política brasileira, como uma sequência de articulações feitas por governadores
fortes, em detrimento de presidentes fracos: da campanha fracassada pelo voto
direto, passando pela eleição de Tancredo para a Presidência pelo Congresso e
culminando com a surpreendente eleição direta de Fernando Collor em 1989 –
esse, por sua vez, ex-governador de Alagoas.
Sendo
quase impossível que Temer passe a ter relevância eleitoral, o mais provável é que
tenhamos um perfil estadualista nas eleições de 2018: candidatos à Presidência
atuando diante de um vazio na esfera federal, buscando apoio junto a mais de 30
partidos no caleidoscópio das 27 disputas estaduais. O que se pode esperar,
portanto, é um grau maior de imprevisibilidade, derivado da oferta em excesso
de possibilidades de coligações regionais.
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