segunda-feira, 7 de agosto de 2017

2018: uma eleição estadualista?

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 08/08/2017 de O Tempo - Belo horizonte, Minas Gerais)

Algumas semanas atrás, o senador Renan Calheiros protagonizou um insólito rompimento com Michel Temer, proferindo um discurso capaz de agradar até o mais radical dos petistas. O movimento estava relacionado com uma questão local: em Alagoas, Calheiros quer preservar a aliança entre PMDB e PT para facilitar a reeleição de seu filho, que hoje comanda o estado. Mais vale garantir um governador aliado do que sacrificar sua popularidade apoiando o presidente mais detestado das últimas três décadas. Em Minas Gerais a situação é semelhante: PMDB ainda apoia o governo estadual petista, mantendo uma aliança que será indispensável para que Fernando Pimentel possa cogitar a disputa pela reeleição de maneira competitiva. Pouco representativo no governo federal, o PMDB mineiro tem mais motivos para se concentrar no caminho que escolher para o pleito estadual do que para empregar suas forças na disputa pela Presidência da República.
Partindo desses casos mais evidentes, é possível discutir a hipótese de que as eleições de 2018 podem transcorrer predominantemente guiadas por uma miríade de forças estaduais, e muito menos pelas grandes dinâmicas da política nacional brasileira. Essa possibilidade representa uma inversão da forma como aconteceram os últimos pleitos nacionais, nos quais a disputa pelo comando do país exerceu uma influência decisiva sobre as eleições para os cargos de governadores e senadores, principalmente.
Podemos considerar, como base dessa estrutura, a situação atual do governo Temer: unanimemente impopular, colhendo resultados econômicos tímidos e lentos, dotado de orçamento deficitário e agindo há meses para garantir a própria sobrevivência; é seguro afirmar que existe hoje um vazio de poder político em Brasília. É evidente o contraste com as campanhas de 2002 e 2010, por exemplo, nas quais havia lideranças claras na Presidência, em torno das quais se aglutinavam grupos favoráveis e contrários. Tais centros de poder, ainda mais fortes quando há reeleição em jogo, dominam a atenção da opinião pública e dos meios de comunicação, o que obriga candidatos a governador a adotarem um posicionamento nítido diante do eleitorado.
A ausência de força política no Governo Federal, sob uma perspectiva histórica, tem paralelo na redemocratização da década de 1980: as primeiras eleições diretas para governadores se deram em 1982, levando ao poder nos estados lideranças populares como Leonel Brizola e Tancredo Neves. Enquanto isso, permaneceria na Presidência até 1985 o desgastado general Figueiredo, remanescente do regime militar. O restante dessa década pode ser lido, na política brasileira, como uma sequência de articulações feitas por governadores fortes, em detrimento de presidentes fracos: da campanha fracassada pelo voto direto, passando pela eleição de Tancredo para a Presidência pelo Congresso e culminando com a surpreendente eleição direta de Fernando Collor em 1989 – esse, por sua vez, ex-governador de Alagoas.
Sendo quase impossível que Temer passe a ter relevância eleitoral, o mais provável é que tenhamos um perfil estadualista nas eleições de 2018: candidatos à Presidência atuando diante de um vazio na esfera federal, buscando apoio junto a mais de 30 partidos no caleidoscópio das 27 disputas estaduais. O que se pode esperar, portanto, é um grau maior de imprevisibilidade, derivado da oferta em excesso de possibilidades de coligações regionais.

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