por Paulo Diniz
(publicado na edição de 29/11/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
eleições presidenciais na Argentina, marcadas pela vitória de Maurício Macri,
foram acompanhadas com interesse ao redor do mundo. Esperava-se que o resultado
das urnas pudesse indicar uma perspectiva de superação da crise econômica que
assola o país, de forma quase ininterrupta, desde 2001. As expectativas
internacionais, assim, reproduziram o tom que marcou a campanha: a dicotomia
entre a eficiência do Estado e a concessão de benefícios à população de baixa
renda; em termos econômicos, seria a oposição entre a permanência da
instabilidade econômica, fundada em uma política de gastos públicos mais
generosa, ou a adoção de um roteiro de estabilização, que necessariamente
demandaria sacrifícios da sociedade como um todo.
Esses
extremos, que simplificam absurdamente a realidade, servem como exemplo da
maneira como se opõem direita e esquerda em muitos países do continente:
através de um embate de slogans e imagens, de fácil compreensão, mas destituídos
de conteúdo. No caso argentino, o candidato apoiado por Cristina Kirchner, o
derrotado Daniel Scioli, tentou com todas as forças associar a imagem de seu
adversário com o período neoliberal vivido pelo país nos anos 1990, que
culminou na terrível crise de 2001. Mais do que isso, Scioli reforçou a
mensagem simplista ao retratar Macri como obediente aos interesses dos credores
norte-americanos, e mais ainda, tentou desqualifica-lo por suas origens de
família rica e empresário de sucesso. Assim, necessariamente, apenas o pedigree
governista tornaria um candidato apto a lidar com os problemas sociais do país.
Por
sua vez, Macri buscou mostrar-se sensível às crescentes desigualdades sociais argentinas.
Mas, principalmente, sua mensagem esteve centrada na eficiência do Estado e no
equilíbrio das contas públicas, um discurso referendado pela sua boa gestão
como prefeito de Buenos Aires.
Importa
perceber, entretanto, a maneira como as plataformas de ambos os candidatos
necessariamente se excluíam: o argentino se viu entre a opção por um Estado
ineficiente que oferece benefícios sociais, ou um Estado competente porém
insensível ao povo. A pobreza das mensagens eleitorais não só enfraquece as
propostas, como também reduz a profundidade das promessas que, depois da
votação, o vitorioso terá que cumprir.
Resta
saber o que mais motivou a população argentina a eleger Macri: sua ênfase na
recuperação econômica ou sua promessa secundária de manter as políticas sociais
dos governos Kirchner. Na medida que o novo presidente se empenhar na
realização de uma plataforma de governo conciliatória, e assim atender às
necessidades da maioria, poderá contribuir para a superação de uma polarização
política que muito já castigou a população sul-americana. Ter que escolher
entre eficiência e estabilização, por um lado, e políticas sociais por outro, é
um dilema cruel. Se concretizada essa hipótese, quiçá o Brasil possa buscar
nela inspiração para combinar os pontos positivos de PT e PSDB, deixando de
lado seus respectivos defeitos.
Paulo, eu vi seu blog hoje e resolvi entrar em contato. vc tem interesse no Cambodja e em Pol Pot.
ResponderExcluirPaulo, estou estudando Pol Pot em meu blog: há documentos do partido, entrevistas, etc.
ResponderExcluirle "esquece" --muito significativo para uma organização nortea-americana --que o Khmer Vermelho derrotou uma ditadura financiada e armada pelos norte-americanos. Isso não seria possível sem uma estratégia correta e o apoio das massas. Há acertos, então, a verificar na prática do Khmer Vermelho.
ResponderExcluirEm primeiro, o Khmer Vermelho usou a estratégia de cercar as cidades, num país rural, através do campo. Em segundo, agiu sempre em segredo, usando o nome de "organização" (Angkar). Ninguém sabia quem era o líder. No período em que esteve na semi-legalidade, ao tempo do rei Sihanouk, que fazia política nacionalista para fora do país e por dentro era repressivo com relação aos movimentos sociais, eles atuaram nos espaços parlamentares possíveis, mas sempre focando na estratégia de mobilizar os camponeses.
http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2015/11/luz-guia-para-o-abismo-em-relacao-pol.html