terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Um problema chamado "Senado Federal"

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 13/12/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Frequentemente, como no momento atual de tramitação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o debate político se concentra sobre a instituição do Senado Federal, com destaque sobre algumas de suas distorções. Tão acalorada é a discussão, que recentemente um membro eleito dessa Casa, Cristovam Buarque, se declarou favorável à sua extinção.
Do ponto de vista institucional, na Federação brasileira, o Senado cumpre um papel indispensável: representa, igualmente, a todos os estados, garantindo que os interesses dos menos populosos sejam tão ouvidos quanto as vontades dos mais populosos e ricos. É o Senado que garante que Minas Gerais e o Amapá tenham a mesma presença em Brasília, já que cada um conta com três senadores; a importância dessa equiparação surge quando se vê que, na Câmara dos Deputados, cujo critério de representatividade é a proporcionalidade populacional, Minas pode eleger 53 deputados federais, enquanto os amapaenses elegem apenas oito.
A justificativa da existência do Senado, inquestionável para um país com as dimensões do Brasil, todavia não é suficiente para sanar as deficiências do funcionamento dessa Casa Legislativa. O critério de escolha de seus membros, por exemplo, é constantemente criticado: assim como os governadores, os senadores são escolhidos em eleição majoritária, tendo direito a dois “vices”, chamados suplentes. Porém, os suplentes costumam ser personagens de menor destaque público, cujas trajetórias apenas vêm à luz quando esses assumem o posto do titular eleito. Alguns anos atrás, por exemplo, figurou como representante de Minas o notoriamente carioca Wellington Salgado, durante o período no qual o titular Hélio Costa comandava do Ministério das Comunicações. Ante o insólito da situação, investigações da imprensa apuraram que sequer o domicílio eleitoral de Salgado em Minas era verdadeiro: tratava-se de um imóvel comercial, na cidade de Araguari, onde era desconhecido o político praiano.
Como solução, hoje, há quem sugira para o Senado a mesma regra vigente para a Câmara dos Deputados, a proporcionalidade: na ausência do mais votado, assumiria o segundo preferido das urnas. Sob essa lógica, imagina-se, teria-se necessariamente personalidades políticas de destaque e reconhecimento da população representando seu estado. Consideremos, entretanto, que em 2010 foram disputadas duas vagas ao Senado, tendo sido eleitos os ex-governadores Aécio Neves e Itamar Franco. Falecido após cumprir o primeiro dos oito anos de mandato, Itamar teria cedido seu posto ao terceiro mais votado, Fernando Pimentel, caso em voga a regra da proporcionalidade. Como o petista foi eleito governador em 2014, sua vaga no Senado teria sido transferida em definitivo para o pouco conhecido Zito Vieira, preferido por apenas 7% dos mineiros.
Garantir a representatividade dos senadores segue sendo um desafio. Porém, maior do que esse, só mesmo a tarefa de convencer um senador legitimamente mineiro a trocar as areias da orla carioca pela poeira das Alterosas.

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