terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Os áulicos e a faixa

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/12/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Recentemente, chamou a atenção da imprensa uma faixa que ornamentava o encontro nacional de jovens petistas: nessa, eram chamados “heróis do povo brasileiro” a lideranças do PT condenadas no processo do mensalão ou detidas devido às investigações na Petrobras. Segundo jornalistas bem informados, a exposição da faixa causou constrangimento nas principais lideranças petistas, exatamente por trazer à tona os dois episódios mais polêmicos da história do PT. Do ponto de vista estratégico, esse raciocínio faz todo sentido, o que torna interessante questionar a lógica que pode ter animado o comportamento dos imberbes petistas.
Inicialmente, podemos tomar a faixa em seu sentido literal: a juventude petista realmente acredita que figuras como Delúbio Soares e João Vaccari Neto prestaram serviços inestimáveis ao povo brasileiro, merecendo por isso a alcunha de heróis. Nesse caso, nada há de surpreendente: nas redes sociais, hoje encontra-se defensores de figuras como o líder comunista cambojano Pol Pot, responsável pelo genocídio de metade da população de seu próprio país. O que surpreende, entretanto, é que um partido dotado da estrutura institucional, acesso a recursos e experiência de poder que caracterizam o PT, ainda abrigue quadros tão alheios à realidade do século XXI.
Outra interpretação possível parte do pressuposto de que os jovens petistas pouco se importam com a culpa das lideranças partidárias nos escândalos de corrupção. O objetivo é mostrar fidelidade ao partido, defendendo sua chefia sob quaisquer condições. Registre-se, portanto, a grande medida na qual o senso se oportunidade foi superado pela devoção ao partido, o que torna tais jovens mais um risco do que um recurso para o PT.
Sendo mais factível a segunda interpretação, então outros acontecimentos passam a fazer sentido. O toque messiânico e a certeza de perfeição, com os quais Lula reveste seus atos, fazem total sentido quando se leva em consideração a numerosa equipe de apoiadores, sempre presente em torno do poder, cuja única função é a de elogiar o líder.
Bajuladores em tempo integral não são novidade ou exclusividade petista. No século XIX, Dom Pedro II convivia com um grupo de pessoas que, da mesma forma que a juventude petista do século XXI, fazia de sua presença um elogio constante. Eram chamados áulicos, em um refinamento linguístico para evitar termo chulo. A visão de mundo “maravilhosa”, oferecida pelos áulicos, obstruiu no Imperador a percepção do mundo real: por exemplo, a preparação de um sucessor à altura só foi priorizada tarde demais por Dom Pedro II, sendo esse um dos motivos que levaram à queda da Monarquia Constitucional.
Guardadas as devidas proporções no que tange à importância histórica de cada um, Lula se vê envolvido em uma dinâmica semelhante já há alguns anos: pensa e reage nos limites da realidade que pintam seus jovens áulicos, um mundo povoado por conspirações terríveis da imprensa, em conluio com o poderoso PSDB. Falta saber, apenas, como e quando virá sua queda.

Um comentário:

  1. http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2015/02/apoiem-reconstrucao-do-partido.html

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