por Paulo Diniz
(publicado na edição de 06/12/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Recentemente,
chamou a atenção da imprensa uma faixa que ornamentava o encontro nacional de
jovens petistas: nessa, eram chamados “heróis do povo brasileiro” a lideranças
do PT condenadas no processo do mensalão ou detidas devido às investigações na
Petrobras. Segundo jornalistas bem informados, a exposição da faixa causou
constrangimento nas principais lideranças petistas, exatamente por trazer à
tona os dois episódios mais polêmicos da história do PT. Do ponto de vista
estratégico, esse raciocínio faz todo sentido, o que torna interessante
questionar a lógica que pode ter animado o comportamento dos imberbes petistas.
Inicialmente,
podemos tomar a faixa em seu sentido literal: a juventude petista realmente
acredita que figuras como Delúbio Soares e João Vaccari Neto prestaram serviços
inestimáveis ao povo brasileiro, merecendo por isso a alcunha de heróis. Nesse
caso, nada há de surpreendente: nas redes sociais, hoje encontra-se defensores
de figuras como o líder comunista cambojano Pol Pot, responsável pelo genocídio
de metade da população de seu próprio país. O que surpreende, entretanto, é que
um partido dotado da estrutura institucional, acesso a recursos e experiência
de poder que caracterizam o PT, ainda abrigue quadros tão alheios à realidade
do século XXI.
Outra
interpretação possível parte do pressuposto de que os jovens petistas pouco se
importam com a culpa das lideranças partidárias nos escândalos de corrupção. O
objetivo é mostrar fidelidade ao partido, defendendo sua chefia sob quaisquer
condições. Registre-se, portanto, a grande medida na qual o senso se
oportunidade foi superado pela devoção ao partido, o que torna tais jovens mais
um risco do que um recurso para o PT.
Sendo
mais factível a segunda interpretação, então outros acontecimentos passam a
fazer sentido. O toque messiânico e a certeza de perfeição, com os quais Lula
reveste seus atos, fazem total sentido quando se leva em consideração a
numerosa equipe de apoiadores, sempre presente em torno do poder, cuja única
função é a de elogiar o líder.
Bajuladores
em tempo integral não são novidade ou exclusividade petista. No século XIX, Dom
Pedro II convivia com um grupo de pessoas que, da mesma forma que a juventude
petista do século XXI, fazia de sua presença um elogio constante. Eram chamados
áulicos, em um refinamento linguístico para evitar termo chulo. A visão de
mundo “maravilhosa”, oferecida pelos áulicos, obstruiu no Imperador a percepção
do mundo real: por exemplo, a preparação de um sucessor à altura só foi priorizada
tarde demais por Dom Pedro II, sendo esse um dos motivos que levaram à queda da
Monarquia Constitucional.
Guardadas
as devidas proporções no que tange à importância histórica de cada um, Lula se
vê envolvido em uma dinâmica semelhante já há alguns anos: pensa e reage nos
limites da realidade que pintam seus jovens áulicos, um mundo povoado por
conspirações terríveis da imprensa, em conluio com o poderoso PSDB. Falta
saber, apenas, como e quando virá sua queda.
http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2015/02/apoiem-reconstrucao-do-partido.html
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