por Paulo Diniz
(publicado na edição de 01/11/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
divulgação de notícias cada vez mais fundamentadas de que o presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, mantém recursos não declarados no exterior
ameaça mudar o cenário da crise política que atinge o Governo Federal. É
consenso entre os analistas políticos dizer que, sob as atuais condições, toda
previsão é plausível, até mesmo as mais mirabolantes. O ponto central, por
isso, deve ser a importância que se atribuiu à figura de Eduardo Cunha, visto
agora como protagonista da cena política de 2015.
Há
de se questionar se é mesmo possível que apenas um personagem seja capaz de
tamanho tumulto, como o que testemunhamos. Primeiramente, é importante destacar
que as relações no âmbito da coalizão governista já vinham se aproximando da
ruptura há algum tempo: o rompimento do PSB de Eduardo Campos, em setembro de
2013, indicava que o número de partidos, lideranças e interesses a serem
conciliados havia se tornado grande demais, mesmo para um governo que tinha
quase 40 ministérios. O potencial para conflito na base governista era latente
e antigo, sendo impreciso imputar a Eduardo Cunha o protagonismo da atual
rebelião partidária.
O
mesmo pode ser dito em relação à Câmara dos Deputados, onde parlamentares
governistas acumulavam rancores contra Dilma por motivos que iam desde o atraso
nas nomeações de seus indicados para cargos no Governo Federal, até a demora no
pagamento das emendas parlamentares. A própria eleição de Cunha, em fevereiro,
para a liderança da Casa, pode ser vista como sinal de insatisfação da base
governista, e não apenas como fruto de uma capacidade de articulação política
extraordinária, que se atribuiu inicialmente ao líder do PMDB fluminense.
A
impopularidade da presidente Dilma, atingindo recordes históricos na atual
democracia brasileira, pode ser atribuída grandemente à crise econômica que
gerou efeitos cada vez mais perceptíveis pela população ao longo de 2015.
Também os sucessivos escândalos de corrupção e a própria fadiga da opinião
pública em relação aos métodos e discursos do governo, após mais de uma década
de gestão petista, podem ser mencionados como causadores do desgaste da imagem
de Dilma. Nesse contexto, normalmente, é comum que aliados reflitam sobre a
utilidade de permanecer associados a um governo impopular, sob o risco de
sofrerem também eles danos em suas imagens pessoais. Assim, quando Cunha se
declarou oficialmente como adversário do governo, provavelmente sua única
diferença em relação a outras centenas de deputados da base aliada foi a
franqueza de seu discurso e os holofotes que esse atraiu. Sua ação, portanto,
condiz mais com o comportamento do rebanho, do que com o do pastor.
Uma
visão mais ampla do quadro político nacional, portanto, é capaz de colocar em
perspectiva o protagonismo de Eduardo Cunha em relação aos eventos do
turbulento ano de 2015. Seu futuro pessoal, em risco pelo envolvimento com o
escândalo da Petrobrás, não melhora em quase nada as perspectivas políticas do
governo de Dilma Rousseff.
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